tag:blogger.com,1999:blog-20899422707421041902024-03-13T21:05:50.983-07:00Depois eu contA - Baltazar Gonçalves A expressão Depois eu contA é uma elipse, sintetiza a fragmentação das pessoas na esquizofrenia social dilacerante que nos separa, nos cega, nos confunde e desumaniza na dicotomia sujeito-ação.Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.comBlogger991125tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-22463428393233263902022-08-21T05:22:00.002-07:002023-08-10T14:43:17.540-07:003 POEMAS DE IZETE TEIXEIRA <p> Amores vividos e revirados, livro da escritora poeta francana Izete Teixeira, tem aquela honestidade que busca o leitor ou leitora quando viveu o suficiente para encarar de frente o Amor. dizer isso é preparar o desavisado: amar é perigoso. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p>Quem ama sofre inevitavelmente, se uma história de amor não parase no ponto em que "viveram felizes para sempre" logo se percebe que "o para sempre sempre acaba", que a separação inevitável vai acontecer, seja pela porque o amor acaba em ressentimento ou mesmo na morte, separação definitiva que só faz iluminar a ausência do que se queria eterno. O Amor em quem o sente é eterno disso se compõe a matéria do livro de Izete Teixeira, fragmentos do vivido e do imaginado numa composição lírica que ora perscruta quem lê, ora sinalizando os perigos alerta amorosamente: contudo, é bom amar!</p><p style="text-align: center;">Leia a seguir 3 poemas do livro AMORES VIVIDOS E REVIRADOS de Izete Teixeira. </p><p><br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijaJzPWXKNwNZB0b-7w9TdjIYUZw1_YTgr19XrVvq_Dd07JvhpwyUl5D253wg-Tp0s8WOxJHThpwdRaoePOIQHADyha8OfApbFWc3M8Enw7ZOiYAfsH_2OVJiQejQrgba4DgtiBvXKKeQbBvQGwO1jb8cKpjxfXqI-WEuKj2AqVBqVXrXwNEdN7wjs/s854/239941727_3189936924625817_5627220734256841344_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="853" data-original-width="854" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijaJzPWXKNwNZB0b-7w9TdjIYUZw1_YTgr19XrVvq_Dd07JvhpwyUl5D253wg-Tp0s8WOxJHThpwdRaoePOIQHADyha8OfApbFWc3M8Enw7ZOiYAfsH_2OVJiQejQrgba4DgtiBvXKKeQbBvQGwO1jb8cKpjxfXqI-WEuKj2AqVBqVXrXwNEdN7wjs/s320/239941727_3189936924625817_5627220734256841344_n.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p>DESALENTO</p><p>Essa dor no peito</p><p>Essa dor tão calada</p><p>Tudo sem rumo</p><p>Sem estrada a seguir</p><p>O sorriso sem riso</p><p>O coração entristecido </p><p>O amor...</p><p>Nem parece </p><p>Que tal prece</p><p>Teve fé e esperança</p><p>E agora?</p><p>Sem rumo sem direção </p><p>Fica a vagar</p><p>Segue devagar </p><p>Não resta nem ilusão</p><p>De ao menos acreditar </p><p>No que é possível </p><p>E no desalento</p><p>Sem horizonte </p><p>Segue tão lento</p><p>Que sem querer </p><p>O coração quase pára. </p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">O TEMPO</div><p>A percorrer</p><p>Por todas as fases </p><p>Da infância à eternidade</p><p>O que fica na memória </p><p>O que eterniza</p><p>é o que foi vivido</p><p>O amor mais bonito</p><p>As emoções sentidas</p><p>Que se permitiu sentir</p><p>As palavras ditas</p><p>O amor vivido</p><p>Revivido </p><p>É o que fica</p><p>No tempo que passa. </p><p><br /></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">AMOR PASSAGEIRO</div><p>O amor passageiro</p><p>Marcou um coração</p><p>Nem demorou...</p><p>Não fez parada</p><p>Só deixou saudade</p><p>Saudade tão cansada </p><p>Escorre pela face. </p><p>Amor passageiro </p><p>Fez-se dor</p><p>Dor infinda</p><p>Lembrança mais doída</p><p>Esta sim</p><p>Sem pressa</p><p>Fez morada </p><p>Na minha alma </p><p>Despedaçada. </p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-44520021019900842742022-07-23T05:45:00.002-07:002023-08-10T14:42:11.212-07:003 poemas de Josaphat Guimarães França<p>No bairro Jardim Redentor de Franca existe essa praça chamada DA JUVENTUDE. O nome completo desse lugar tão urbano, ali perto do Puxa-Faca e bem próximo das antenas das emissoras de televisão, é PRAÇA DA JUVENTUDE JOSAPHAT GUIMARÃES FRANÇA. Ele foi jornalista, nasceu na cidade mineira de Araxá em 1912 e viveu em Franca, interior do estado de São Paulo. Foi um dos fundadores da Academia Franca de Letras e presidia a AFL na altura do seu falecimento. Dentre a sua vasta obra destaca-se o premiado livro O PINCEL DALTÔNICO, porém aqui você conhecerá 3 poemas do livro PROFISSÃO DE ABISMO de Josaphat Guimarães França. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixJFc6VdLk1pN54v0NF3VT11I_wXpczMtIecmgS9_v9wPCGrHLCZ62N151TQc8U8qjphuexE05BWswKurOctwNVyupC-e1A6AKNYQuXpuHEsseFRo2vXcIy9JOoZ8X5pK_2jkxEbNuuuC2K6ASTqSMJBSQiIzfUH-DV751g7JWWQuQdmt1wVeHjG-3/s2048/294478935_10226902771051034_2101901173690217427_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1084" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixJFc6VdLk1pN54v0NF3VT11I_wXpczMtIecmgS9_v9wPCGrHLCZ62N151TQc8U8qjphuexE05BWswKurOctwNVyupC-e1A6AKNYQuXpuHEsseFRo2vXcIy9JOoZ8X5pK_2jkxEbNuuuC2K6ASTqSMJBSQiIzfUH-DV751g7JWWQuQdmt1wVeHjG-3/w212-h400/294478935_10226902771051034_2101901173690217427_n.jpg" width="212" /></a></div><br /><p><br /></p><p><b><br /></b></p><p><b>PROFISSÃO DE ABISMO</b></p><p>Dizem, que sou cascudo. Habito, é tudo,</p><p>Em locas submersas, não piscosas.</p><p>A vida aí é escura e o mundo mudo</p><p>Como as mudezas mais silenciosas!</p><p><br /></p><p>Existo nesse arcano e não me iludo</p><p>Com as tonas vivas, ou as luminosas</p><p>Corredeiras que são, para um cascudo,</p><p>O que os ventos seriam para as rosas.</p><p><br /></p><p>A claridade em que me nutro encerra</p><p>Em força, a atomística suprema</p><p>Que faz dos homens deuses sobre a terra!</p><p><br /></p><p>Deixai que eu viva peixe submerso</p><p>E só amanheça em águas de poema</p><p>Sem luz nenhuma que não seja um verso!</p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><p><b>O ÁTOMO EM PRINCÍPIO SÓ IMPORTA</b> </p><p>O átomo, e princípio, só importa </p><p>Mostrando como o Cosmos se adquire</p><p>E forma, sem que aí jamais transpire</p><p>Qualquer vislumbre de matéria morta. </p><p><br /></p><p>Enquanto o sábio o micromundo inquire</p><p>Não é a parcela em si que o conforta,</p><p>Mas encontrar nessa fração a porta</p><p>Ante a qual ele vibre e até delire!</p><p><br /></p><p>Já não é mais que dessas novas ânsias,</p><p>Que humanamente o mundo agora vive, </p><p>Entre filosofias de distancias...</p><p><br /></p><p>Indo mesmo que as asas se lhe corte,</p><p>Ou que dos próprios olhos se lhe prive,</p><p>Hoje o homem vê e sente além da morte!</p><p><br /></p><p><br /></p><p><b>PRETENSÃO</b></p><p>Quem queria o céu, e o sabia lá tão alto,</p><p>E mal divisa a disfarçada altura,</p><p>E de visões concretas anda falto,</p><p>E a distância, a exata, não procura;</p><p><br /></p><p>E pensa que a conquista apenas seja</p><p>Uma questão não mais que da distância</p><p>Do que quer, do que pensa e que deseja,</p><p>- morrerá de sofrer da própria ânsia!</p><p><br /></p><p>Pois que, do alto, a posse só se faz,</p><p>Com gestos que permitam a quem quer</p><p>Sonhar um dia com aquela paz.</p><p><br /></p><p>Mas, é tão fácil! Faz-se, a subida,</p><p>Amando a ideia de um bem qualquer</p><p>Que nesta vida valha a outra vida!</p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><br /><p><br /></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-59816605708667908102022-07-12T06:33:00.014-07:002023-08-10T14:43:57.285-07:00prefácio do meu livro DIÁRIO DOS MISERÁVEIS, por Delzio Marques SoaresEXPERIÊNCIA OU VIVÊNCIA NUM DIÁRIO POÉTICO
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
A narração está na base das sociedades pré-escrita, ou de cultura oral. Era por meio de narrativas que se transmitiam o conhecimento e as técnicas ancestrais destinadas a regular e movimentar a vida cotidiana das tribos. Elas também perpetuavam os mitos fundadores dessas comunidades.
Fatos ou ficções, narrava-se de forma prosaica ou poética. A narrativa potencializou-se com a escrita, expandindo seu alcance no tempo e no espaço, numa espiral de compartilhamento de experiências.
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO-oCjcNHOInqQtCywSS-z9WYyYmzeoQv3_ERzZyYLq4x9Qes5st7bTD0pPjlqa_bshyinK_RVsjYuGZwPzQ5ue5u_55nB1U9_jJeni7WvOpghYUFLNBjNVZ5x8GC6C7KAfQFCuFfsmAVmKEUaHm8Bcvhoww7JoF_5KGUZg-GII5BzhUDlWH6zYdrS/s1600/Capturar.JPG" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="517" data-original-width="879" height="323" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO-oCjcNHOInqQtCywSS-z9WYyYmzeoQv3_ERzZyYLq4x9Qes5st7bTD0pPjlqa_bshyinK_RVsjYuGZwPzQ5ue5u_55nB1U9_jJeni7WvOpghYUFLNBjNVZ5x8GC6C7KAfQFCuFfsmAVmKEUaHm8Bcvhoww7JoF_5KGUZg-GII5BzhUDlWH6zYdrS/w549-h323/Capturar.JPG" width="549" /></a></div>
Entre os primeiros narradores que nos legaram escritos estão Homero e Heródoto, distantes no tempo e distintos na forma de narrar. No século IV a.C, Aristóteles formaliza uma distinção entre as narrativas, em duas obras seminais. Conforme Alexandre Junior (2005, p. XXVII), a “Retórica ocupa-se da arte da comunicação, do discurso feito em público com fins persuasivos. A Poética ocupa-se da arte da evocação imaginária, do discurso feito com fins essencialmente poéticos e literários”. Nessa asserção do tradutor português de Aristóteles, narrativa é tomada como discurso e somos esclarecidos quanto à sua aplicação enquanto fato ou ficção.
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
Adentrando um pouco mais os meandros desses dois tratados, podemos afirmar que, na Retórica, o estagirita sistematizou a arte da persuasão. Nela, o discurso persuasivo - uma grande narrativa -, é apresentado em cinco partes, sendo uma delas especialmente dedicada à narração de fatos comprometidos com a verossimilhança, cuja principal função é municiar a argumentação. Nesse sentido, Tringali (2014, p. 164) afirma que “a narrativa Retórica deve ser fiel. Não se deve mentir. A narrativa tem limites morais.” Já na Poética, Aristóteles ocupa-se em apresentar as epopeias, as tragédias e outras formas de produção poética - discursos em verso ou prosa -, como mimese, isto é, imitações ou representações da vida e da subjetividade humana. A certa altura desse grande compêndio sobre poesia, Aristóteles afirma ser “evidente que não compete ao poeta narrar exatamente o que aconteceu; mas sim o que poderia ter acontecido, o possível, segundo a verossimilhança ou a necessidade.” (1985, p. 252)
Pode-se perguntar: qual a aplicabilidade dessas noções, num texto que se propõe analisar um livro de poesia? Explico: fomos ao filósofo grego para compreender que a poesia surgiu como uma forma de narrativa, um tipo de discurso que não tem compromisso com fatos. Passamos também por Walter Benjamin, para quem a narrativa se funda na experiência do narrador, ou da relatada por outros, transformando “isso outra vez em experiência dos que ouvem sua história” (BENJAMIN, 1980, p. 60).
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
Não ignoramos que, para os estudos linguísticos contemporâneos, narrativa e discurso se distinguem pela enunciação. Haveria, ainda, muito o que considerar quanto à abordagem, que o próprio Benjamim faz, da decadência da narrativa frente ao advento do romance. Mas vou me permitir não ser tão purista, ou profundo. Alerto que esse pequeno ensaio se aceita como o princípio de uma reflexão maior. O que proponho é advogar narrativa como forma de expressão da poesia, na linha defendida por Adorno que, ante às proposições de Benjamin quanto à decadência da narrativa frente ao advento do romance, afirma que “a forma do romance exige a narração” (ADORNO, 1980, p. 268).
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
Faço isso porque, este livro de Baltazar Gonçalves, estampa em sua capa o título Depois eu conta. A despeito da liberdade poética, tomada pelo autor na conjugação verbal , e de alguma dubiedade quanto ao significado do verbo, o sentido mais gritante de “depois eu conta” é o protelar de um relato, de uma história, de uma narrativa. Na vulgaridade gramatical, o título bem poderia ser “depois eu narro”. Entretanto, há algo de peculiar nessa interpretação: sendo um livro de poesia, um título com o mesmo grau de inventividade não poderia ser “depois eu poeta”? Ora, um dos princípios da poesia é a falta de compromisso com o acontecido, conforme Aristóteles. Poiesis, sua raiz etimológica, remete a criação, fabricação, invenção. Logo, desconfio que, com o título Depois eu conta, este livro de poesia não que ser apenas lírica, mas também se beneficiar de algo inerente à épica, qual seja, narrar “as ações, os feitos memoráveis de um herói histórico ou lendário que representa uma coletividade” (EPOPEIA, 2021). Sim, recuperar o sentido de experiência vivida e essa liberdade de ter “um pé nos fatos/outro nos mitos”, inerentes à narrativa. Mas é possível narrar poeticamente, com base em experiência, nos tempos atuais?
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
Conforme Benjamin (1989), a noção de experiência se perdeu com a modernidade, pois ela está ligada a uma vida de contemplação, devaneio e ócio. Nas suas reflexões sobre Baudelaire, marcadas pelas turbulências de sua época, o filósofo alemão atribui à perda do sentido de experiência do sujeito à urbanização massiva da sociedade, que o submete a choques, por meio de excesso de estímulos, a uma velocidade industrial. Sob esse bombardeio de toda sorte de demandas, nada pode ser vivido tempo suficiente para se dar como experiência. Nesse sentido, sobra ao indivíduo apenas vivências, ligadas não à memória, mas à consciência . Ora, o que dizer de estímulos e choques em tempos de cibercultura - dominado por redes sociais e seus algoritmos -, sob o qual escreve Baltazar Gonçalves? É possível detectar no seu livro de poemas, marcas do que podemos remeter à memória (experiência) ou à consciência (vivência)? Não pretendo analisar todos os poemas, no sentido de categorizá-los, ou capturar seus múltiplos sentidos, mas envidarei um esforço no sentido de iluminar alguns.
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
A primeira palavra, do primeiro poema, do segundo livro de poesias de Baltazar Gonçalves é “eu”. Isso nos remete ao título do livro, aquele no qual o sujeito parece querer protelar a narração. Serão os mesmos sujeitos? O “eu” do título pode ser cambiado por “alguém”, se seguirmos o sentido mais literal e procedermos como quem teima em corrigir a conjugação verbal. Teríamos, então, como título “Depois alguém conta”. Se adotarmos esta simplificação, o “eu” que inicia o poema se diferencia do “eu” do título, pois este seria um “outro eu” qualquer. Mas o autor Baltazar se entrega, e reafirma-se num “eu” único, ao fazer uso da palavra “diário” no subtítulo do livro. Ora, diário é o gênero da subjetividade por excelência. Dessa forma, o conjunto título + subtítulo + primeira palavra do primeiro poema, nos apresentam Baltazar como um narrador lírico, fazendo uso de um diário escrito em versos.
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipiPuY26dFA913OEZgVAIm-poHZaZI7s_VtlpHI4OZ9Jscu1ky2z9xJ_KnsLC5s4kDPCS0r6zkL_2D31F_QpcVT3U94xssHIVrQjLLQh572lm8X6U6YkJMOYkFxFjxn__u_FQDLVMapTYHp9okjvzDutL5bFIl2XowzRGlImkvI956kgCQKuqZM0Ue/s1600/4.JPG" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="467" data-original-width="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipiPuY26dFA913OEZgVAIm-poHZaZI7s_VtlpHI4OZ9Jscu1ky2z9xJ_KnsLC5s4kDPCS0r6zkL_2D31F_QpcVT3U94xssHIVrQjLLQh572lm8X6U6YkJMOYkFxFjxn__u_FQDLVMapTYHp9okjvzDutL5bFIl2XowzRGlImkvI956kgCQKuqZM0Ue/s1600/4.JPG" /></a></div>
Essa predominância da subjetividade, explícita nas primeiras marcas verbais do livro, se estendem por todo o primeiro poema. De caráter confessional, Legado abre o livro como uma pungente auto apresentação, o que nos faz retomar Walter Benjamin quando diz que “a tendência dos narradores é começarem sua história com uma apresentação das circunstâncias em que eles mesmos tomaram conhecimento daquilo que segue, quando não as dão pura e simplesmente como experiência pessoal” (BENJAMIN, 1980, p. 63). As imagens que Legado evoca e o léxico adotado, nos remetem a Augusto dos Anjos, o poeta que começou simbolista e se firmou na modernidade com uma obra calcada em reflexões científico/filosóficas. Seu único livro publicado em vida intitula-se, Eu, essa primeira pessoa que parece assombrar este livro. Para além da relação Eu/Depois eu conta, noto que Baltazar busca, uma intencional conexão com Augusto dos Anjos, pois um verso desse poeta serve de epígrafe para a segunda parte desta publicação. Isso parece-me providencial, como uma âncora jogada num mar que se sabe fundo, assim como são profundas as memórias que trazem à tona a experiência única de ler O deus-verme.
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4SIlvO4xzi9boWcpl_P5rOlFSaJrWPMGxFGGMhgIGnszSulmkgEu8Rg4v8YwRFrfeZeAR266OEn2EY8yffuRtgOGiAsz8oebf3LCOYjdvc15WRAfhneB0wpPPHX7qEghc1mfuZ0xN1wT2t6FpRxziDMPTY7fYGIy7z6W5YKDUw3GReDfo5uHHTrG-/s1600/7.JPG" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="537" data-original-width="555" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4SIlvO4xzi9boWcpl_P5rOlFSaJrWPMGxFGGMhgIGnszSulmkgEu8Rg4v8YwRFrfeZeAR266OEn2EY8yffuRtgOGiAsz8oebf3LCOYjdvc15WRAfhneB0wpPPHX7qEghc1mfuZ0xN1wT2t6FpRxziDMPTY7fYGIy7z6W5YKDUw3GReDfo5uHHTrG-/s1600/7.JPG" /></a></div>
A propósito, o helminto endeusado pelo poeta paraibano é digno de distinção na cosmogonia de Baltazar Gonçalves, sendo citado seis vezes, em quatro poemas, inclusive em Legado, onde empresta sua repugnância à figuração do poeta. Verme poderia ser um poema/verbete, tal a exatidão com que é definido essa espécie, mas não, a figura que emerge dali é a de um presidente-verme, um homúnculo ufanista que reverbera em Barbárie, ou melhor ajuda a patrociná-la por meio de Notícia Falsa. Leiam estes três poemas tendo em perspectiva a atual conjuntura sócio-política brasileira. Neles não se encontra o narrador escavando memórias e revelando experiências, mas narrativas de vivências de um poeta em choque, desfigurado pelo nojo resultante do embate entre consciência e realidade.
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
Übermensch, sugere o eterno retorno a Niestzche e seu além-do-humano. O poema abre com um aforisma e se desloca para a primeira pessoa. Nos soa como um profeta, misturando as lições de Zaratustra à sua própria vivência.
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYiJuFO7DRIMCed-bPLacFMKjt0AFmqkE9hCU8tYhPtKdusns9cucotH2_nV7Lf-dQ6PcjO_bYYwDgY3c6RJV9MeZpKSrDiZVo1bunN9V9QbFn4iN5-JYlXslbM9_3QiJnNSAH31PN-6abgjwYUNTCRlTxsP3zlgGITguDO1ihn1SaMSL9EWGY2PHB/s1600/9.JPG" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="506" data-original-width="315" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYiJuFO7DRIMCed-bPLacFMKjt0AFmqkE9hCU8tYhPtKdusns9cucotH2_nV7Lf-dQ6PcjO_bYYwDgY3c6RJV9MeZpKSrDiZVo1bunN9V9QbFn4iN5-JYlXslbM9_3QiJnNSAH31PN-6abgjwYUNTCRlTxsP3zlgGITguDO1ihn1SaMSL9EWGY2PHB/s1600/9.JPG" /></a></div>
A urbanidade pode ser sufocante, mas as cidades em que nascemos, ou visitamos, podem ganhar ares míticos em função dos laços que desenvolvemos com elas. O estado de Minas Gerais carrega, já no nome, um dos muitos motivos pelo qual se perpetua em nossa memória como um espaço poético. Sem entrarmos nas veredas do estado, elejamos Belo Horizonte, capital e título de um dos poemas deste livro. Reconheço no “Curral del Rey” que foi alçado à capital, uma mítica toda especial e pessoal, que não cabe aqui narrar. Volto-me para a narração de Baltazar, e ainda que eu não saiba dos vínculos que ele guarda com a metrópole, reconheço em seu poema a mítica de um lugar. O narrador descreve de maneira tão viva certos itens da geografia, que eles parecem estarem saindo de sua memória ancestral com o fim único de serem reconstituídos na minha. Esse poema emula experiência vivida do autor e deste leitor.
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
Algo semelhante acontece com o poema Embornal puído, poucas páginas adiante. Não por acaso, esse poema também gira em torno de Minas Gerais, mas agora o foco não é a geografia, mas os hábitos, costumes e fatos culturais típicos do estado. O utensilio multifuncional, de confecção artesanal, utilizado principalmente pela gente simples do grande sertão, se universaliza como símbolo de um estado. O estado de degradação do embornal contribui para armar o gatilho que dispara memórias de alguém, como eu, que viveu e experimentou o que narra o poema.
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
Poesia se aprecia mais pelo que sugere do que pelo que explica, logo aplicar uma teoria na sua leitura pode redundar os seus múltiplos sentidos. O que me propus fazer aqui foi tomar alguns poemas e aspectos de Depois eu conta sob a perspectiva de narrativa poética, e ver até que ponto teorias clássicas poderiam iluminá-los. Senti uma grande satisfação nessa leitura. Deixo ao leitor o desafio extra de mergulhar em cada poema desse “diário” com esse itinerário: acessar a memória ou a consciência do poeta, pela identificação de elementos que remetem à experiência vivida ou apenas vivência e notar até onde as do autor se imbricam com as do leitor.
<div class="separator" style="clear: both;"><br /></div>
______
DELZIO MARQUES é mestre em Linguística pela Universidade de Franca, dissertou sobre a argumentação nas capas de discos da Tropicália. É fotógrafo profissional e docente nos cursos de Design Gráfico, Publicidade e Propaganda e Jornalismo, da UNIFRAN, ministrando disciplinas de Fotografia, Estética da Imagem e Cibercultura. Em 2016 realizou, na Casa da Cultura de Franca, a exposição Laércio de Franca – o som que eu vi, uma mostra de seu trabalho autoral com fotografia de música e espetáculos. É membro do Grupo PARE (Pesquisa em Argumentação e Retórica), e seus estudos priorizam discursos multimodais. Endereço eletrônico: delzio_marques@uol.com.br
_______
Referências bibliográficas deste texto de Delzio Marques Soares:
ADORNO, T. W. Posição do narrador no romance contemporâneo. In: BENJAMIN, W.; HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W.; HABERMAS, J. Textos escolhidos. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 269-273.
ALEXANDRE JUNIOR, M. Introdução. In: ARISTÓTELES. Retórica. Tradução de Manuel Alexandre Júnior et al. São Paulo: EWF Martins Fontes, 2012. p. XIII a LXXI.
ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Ediouro, 1985.
BENJAMIN, W. O Narrador. In: BENJAMIN, W.; HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W.; HABERMAS, J. Textos escolhidos. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 57-74.
BENJAMIN, W. Sobre alguns temas em Baudelaire. In: BENJAMIN, W. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. Tradução de José Martins Barbosa e Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 103-150.
EPOPEIA. In: HOUAISS, Grande Dicionário Houaiss. São Paulo: Uol, 2021. Disponível em: https://houaiss.uol.com.br/corporativo/apps/uol_www/v5-4/html/index.php#16. Acesso em: 07/01/2021.
TRINGALI, D. A retórica antiga e as outras retóricas: a retórica como crítica literária. São Paulo: Musa Editora, 2014.
Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-26067412643346228702022-07-10T05:15:00.005-07:002022-07-11T13:29:37.793-07:00TERESA ANA E OUTRAS CURVAS | de Martinho Gamboa, escritor de LuandaGosto de apreciar a beleza, a pura natureza.
É com ela que produzo meus sentidos, construo minhas significações, regenero minhas forças e suplanto minha arruína.
Viver, para mim, além de ser um jogo é também um privilégio.
Exige de mim valorizar tudo o que me rodeia. Nesse esquisito, meu filhinho que goza meses neste planeta, que por sinal já tende a fazer o tentem, constrói o exercício de pisar a terra.
Às vezes partilha comigo, com seu olhar inocente, o sabor da natureza.
É um potencial observador e acima de tudo desafiador consigo mesmo.
Estando cerrado entre quatro paredes, sinto minha liberdade vetada.
Não vejo e nem consigo usufruir das leis da visibilidade do tempo. Não sinto nada, nem o tempo, nem a luz, nem o vazio da vida. Nesse instante, preferi tocar às aspirações dos anjos despedaçando o cerco que impede a visibilidade do mundo.
Tornei-me numa alavanca, ou seja, em duas peças fundamentais: aiveca ou arado, e o sulco.
Libertei-me das cerras quando a vi pela primeira vez. Valorizei-a como quem toca num diamante Jadeíte de mil e uns quilates. Toquei-a sem medir as vibrações das curvas, bebi-a com a boca de sol como quem bebe as lições na barraca de pau à pique.
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCMsXmendvCHyHpZtBJ2XuYPq1IPgZU4BGlLhdV4BdzFpcWHpaI8DoAZYyj00dfgNZ3g5Bzu-MiYUDNCZ2WCp13RLGZv1Bh30MpoFjNP9WZEiYEyJM3LashMJ77nwLVESnVJh8zzvlgcpoa1JnxBJmo4NJThZOL2DsFxWJFCcL5fduvW002HCajGiN/s1600/a.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" data-original-height="256" data-original-width="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCMsXmendvCHyHpZtBJ2XuYPq1IPgZU4BGlLhdV4BdzFpcWHpaI8DoAZYyj00dfgNZ3g5Bzu-MiYUDNCZ2WCp13RLGZv1Bh30MpoFjNP9WZEiYEyJM3LashMJ77nwLVESnVJh8zzvlgcpoa1JnxBJmo4NJThZOL2DsFxWJFCcL5fduvW002HCajGiN/s1600/a.jpg"/></a></div>
Esta sorte que meus braços seguram, apetece-me tocar o zeugo num tom mais antigo, afinado na medida dos ouvidos da Grécia só para expressar esse privilégio.
A minha imaginação ganha acção quando mergulha a cachimónia num choro amargamente cruel onde os deuses de fato e gravata não sabem inventar a chuva nas terras de Cunene. Nesta sequência inquietante, a seca rasga em pedaço a garganta do meu íntimo que aguarda há séculos o favor das lágrimas do céu.
Pensar nestas atrocidades catastróficas, destroça meu rigor intelectual, preferindo assim, passar nas curvas da Teresa Ana e retornar às aspirações dos anjos.
Esta mulher de que vos falo vestiu-se de pedra Jadeíte, mineral jade, e tornou-se numa preciosa pedra-mulher de mil e uns quilates.
No tapete dos meus braços, alongava-se e destilava-se.
Seguidamente caçava a água no poço da garganta da vila da cidade do Cunene.
Porém, antes de arrumar a rodilha sobre a cabeça, enquanto a cede engolia a própria seca no vazio dos riachos, decidi recitar um verso em prosa passado em papel vegetal.
Com as mãos repousadas no rosto, passeando devagar em jeito dum camaleão, fitei meus olhos frente-a-frente e plantei na minha garganta um tom amoriscado e declarei:
Vá, mas quando o luar não mais souber iluminar nossa cama, já terei provado o mel que lateja de gota em gotas no bastão do rei Salomão. Nesse instante, sentirei o perfume de seu corpo pintado no cimo da cama. É onde sinto o sabor do loengo a destilar na curva da tua garganta abraçado no ramo da árvore sul de Angola.
Quando eu despertar deste sonho, que se torna dias-pois-dias um desejo proeminente, morangos não são frutos senão um jeito amorosamente europeu. Loengo ou mexa, é sim fruto da terra. Todavia, pôr entre a língua, faz-me ouvir os sussurros melódicos da guitarra de Waldemar Bastos a dedilhar Teresa Ana, nus encurvados ramos.
É contigo que me visto de preserva activo, repintando o quadro de Mona Lisa com pincel de Vinci.
Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-74067891424513401952022-06-15T04:07:00.007-07:002023-08-10T14:47:04.399-07:00DE TANTO INVENTAR <div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-large;">Tirei você muitas vezes </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-large;">de perto do que </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-large;">te fazia triste </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-large;">eu mesmo não encontrava </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-large;">alegria em qualquer parte </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-large;">de tanto inventar rumo </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-large;">para esse nosso mundo novo </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-large;">creio ter me abandonado </span></div><div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-large;">e a ti esquecido nessa arte </span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-large;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-large;">Zerobill</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-large;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-large;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxuta7fXq1uk-AjBHuj_Wc-iYdZo86G8xHE6JVvEqKs8WyZ0eZQygeIo5bFN1-yGG14W-4FjBHekL8fCPQbi-aY-5lqtiAMdKpo_bK3MY9ReSLq1hcBu3AZ5LA0y-Po5tXz03IiZa05q6_ZH77DuEZkM71AeyniZkZQbA4W5rjw2KRrsmxnt-evxUT/s1080/FB_IMG_1590675658226.jpg" style="display: inline; margin-left: 1em; margin-right: 1em; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="317" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxuta7fXq1uk-AjBHuj_Wc-iYdZo86G8xHE6JVvEqKs8WyZ0eZQygeIo5bFN1-yGG14W-4FjBHekL8fCPQbi-aY-5lqtiAMdKpo_bK3MY9ReSLq1hcBu3AZ5LA0y-Po5tXz03IiZa05q6_ZH77DuEZkM71AeyniZkZQbA4W5rjw2KRrsmxnt-evxUT/w317-h317/FB_IMG_1590675658226.jpg" width="317" /></a></div><div></div></div>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-71286165570360030652022-06-12T06:15:00.005-07:002022-06-12T07:01:21.839-07:00DIA DOS NAMORADOS
Somos adultos e nossa idade não dorme, a cidade dorme quando loucos amantes sobrevoam o tédio, pois uma deidade inominável permitiu o silêncio absoluto entre nós, o silêncio confortável para dois, na cidade vazia a multidão ausente de si dorme, a falta de trânsito no ruído macio de um motor vai longe na autovia, o pensamento dilui nossos corpos no peso sustentável da neblina, a transparência do seu olhar, a sua mão na minha, a eternidade pousada na umidade fria, seu beijo quente seco e depois úmido, o gesto respeitoso mas atrevido, quem sabe onde quer ir vai mais longe, nas segundas intenções o verbo teso, predicados à flor da pele, uma nave espacial que sobrevoa deveria nos levar, lava fria em noite de neblina, a leveza do suor depois de romper os poros, há coisas que a gravidade não compreende, metais pesados evaporam, arranjo desalinhado e belo e justaposto de constelações familiares, o sagrado e o profano de mãos dadas, o desalojado finalmente em casa, seu abraço no meu colo e o contrário disso, os corpos da luz penetrando toda sombra, em nós abrasadas lâmpadas postes faróis, seus dentes afiados agulham vermelhos mamilos sanguíneos, a verdade do desejo comum, sua entrega na solidão crua e completamente compartilhada, ancestral idade atemporal do agora, o espírito do nosso tempo alongado, sua presença na minha, consciência vasculha corpos, a verdade não liberta nada e ninguém se apenas o conhecimento da verdade pode libertar, no inconsciente traduzido nosso translado, a melhor versão do escuro iluminado: trouxestes a rosa? receba chocolate! fora das bolhas dessa paralisa dos postes e relógios o eixo da Terra se curva para nosso eclipse, nem a lua desgovernaria tanto, na comunhão dos astros quando permitir a maré eleva-nos altíssima gravidade.
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5pW2jiOHsT4Vvqt2eGYhgn9vueSY0F8UvsynBKAtfqb_vuDgs72M82g1D9Xrm_kHb6Mr36vb9r1PbDXhdaxseDsFALPKSDUvUfDdJ95izRioOVezX92oRb4ovD4vnv2afEldnxdaTyKOu7T_FOjlQKxP5fWxwRLkMkPwBrLzRbS7IDsszjVN_Ok37/s4608/IMG_20220612_100729313_PORTRAIT.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="400" data-original-height="4608" data-original-width="3456" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5pW2jiOHsT4Vvqt2eGYhgn9vueSY0F8UvsynBKAtfqb_vuDgs72M82g1D9Xrm_kHb6Mr36vb9r1PbDXhdaxseDsFALPKSDUvUfDdJ95izRioOVezX92oRb4ovD4vnv2afEldnxdaTyKOu7T_FOjlQKxP5fWxwRLkMkPwBrLzRbS7IDsszjVN_Ok37/s400/IMG_20220612_100729313_PORTRAIT.jpg"/></a></div>
Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-52305979261910892302022-04-16T06:17:00.003-07:002022-04-16T06:17:29.502-07:00ALELUIA<p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">quem me conhece mais de perto sabe que morri algumas vezes,
ou quase, quase é uma palavra que gosto muito, a vida é mesmo um quase, um
aposto bem colocado entre vírgulas, portanto às vezes me sinto um quasar, ponto
finito mínimo parecido com estrela emitindo sinais de rádio para toda parte, e
porque vim ao mundo com defeito de fabricação aprendi a dar valor no que não se
encaixa nos modelos de fábrica, desenvolvi gosto pelo desvio e pelos os
caminhos tortos, aprecio o disfuncional que continua voltando no caminho para
fazer das migalhas pão, sou estranho em mim, bancar a singularidade de saber-se
acordado é caro, quanto mais virtude esvai menos cheio de si eu fica, e sobra
espaço para os vícios porque a beleza da figura humana não está na perfeição do
traço mas no diluído das margens daquele borrão, quando penso reencarnação
imagino ter vivido tantas vidas quantas mortes já senti, as gerações me
atravessam e isso é bom, envelhecer é a melhor coisa que existe se a morte é
por direito passagem, mas quando penso ressureição percebo que ainda estou
aqui, na rotação em torno do Tempo que dura apenas 24 horas, é possível anular
o tempo para alongar o espírito, ressuscitar de entre os mortos é como
atravessar o espelho, dói porque tudo quebra, outros estavam desse lado e eu
pensei que estavam recolhendo os cacos, estilhaços são quase, o espelho
quebrado é um quase, tudo fica para traz quando você renasce, o disperso
reunido só importa se você consegue evaporar, falando de mim é quando evaporo
que sou quem eu é.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><a href="https://www.facebook.com/BaltazarGoncalvesBill?__cft__%5b0%5d=AZXHcamvDnQljrjuOTycFgf4WO9tClyfLGeagM6gy_p2Pr19w9_XLKjRX23VHoHWworPDUs_f0czAjE7qmamNu42SWbYdtKH-Xb80h8R8mVPE9rtUxL2W7WOUDricTkj1bm46B0Sdq1aXVgXPKv8kW3v&__tn__=-%5dK-R">Baltazar
Gonçalves</a><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTAlBr2tIDjvYvUDYeZvDKMlETVJpZ30LVnfRfmUBdg60r-mGdpeuELeOP7XOSpyEZLnWGUTKR1161bVnxpJFfEOkbvnr5eV7XfK2YWTOhyR32W2rXAeT6nfbNVFyKt7TolzHyrbXoPqzL7c7qjr4eR1kpU3ugZMw5FT2fiV84Swu4PkJrUDy6m5Ok/s900/DSC09428.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="569" data-original-width="900" height="202" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTAlBr2tIDjvYvUDYeZvDKMlETVJpZ30LVnfRfmUBdg60r-mGdpeuELeOP7XOSpyEZLnWGUTKR1161bVnxpJFfEOkbvnr5eV7XfK2YWTOhyR32W2rXAeT6nfbNVFyKt7TolzHyrbXoPqzL7c7qjr4eR1kpU3ugZMw5FT2fiV84Swu4PkJrUDy6m5Ok/s320/DSC09428.JPG" width="320" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-24234165482754466262022-01-27T12:22:00.002-08:002022-01-27T12:23:13.486-08:00REGINA PANDEMIA <p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Ela que deitou cedo, mas não dormiu logo porque teria duas faxinas no dia
seguinte, para chegar ao centro são dois ônibus lotados, pensava. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A filha, velha
aos sete anos, gemia no quarto mínimo e frio do seu lado na cama. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A febre passa.
Ivermectina, cloroquina, dipirona e chá de alho. Com o dinheiro das faxinas
compro gás e faço uma sopa. Batata, couve e tomate. Carne só se o Alexandre
lembrar na volta do boteco. Santo Deus, quanto tempo não tenho marido. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A filha
gemendo, o sono que não vem, a febre que não passa. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Regina acordou sem ter
dormido, mas confiante que o presidente resolverá tudo, dizem que ele é messias. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">A faxineira dá teto para dois sobrinhos, aparecem e desaparecem como aviões que
são no tráfico, vendem para usar. Importa registrar o lamento por essa que não acordará
mais nessa vida. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Depois que eu voltar das faxinas enterro o corpo, diz
engolindo um sapo. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">E saiu para a rua. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Dissolvida na multidão, Regina pandemia
de medo.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="color: #7030a0; font-family: Times New Roman, serif;">Baltazar Gonçalves</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: #7030a0; font-family: Times New Roman, serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi8DyRLnkxwTQbqQPszm4WA6bUGuFmCoRiZ7x-rpvgv4EIGdL5ktwokawT7YXA0endpATlUF230Dn4trTeBv61Illtx1AUgTKOnq3PLWu67RdFcthXd4is830K4i5Pyn2JPfG34KyTuBtfqapzYKSxQ2_M2GXkhGBGHRn23VorAMxkDgyrGOjHZ-6iU=s400" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="291" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi8DyRLnkxwTQbqQPszm4WA6bUGuFmCoRiZ7x-rpvgv4EIGdL5ktwokawT7YXA0endpATlUF230Dn4trTeBv61Illtx1AUgTKOnq3PLWu67RdFcthXd4is830K4i5Pyn2JPfG34KyTuBtfqapzYKSxQ2_M2GXkhGBGHRn23VorAMxkDgyrGOjHZ-6iU=s320" width="233" /></a></span></div><span style="color: #7030a0; font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span><p></p><br /><p></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-18107021165035607182021-12-29T06:24:00.006-08:002021-12-29T10:24:39.131-08:00Resenha do livro MORADA de Marcelo Luz<p><span style="text-align: justify;">O livro MORADA do poeta Marcelo
Luz, composto em três partes ou conjuntos de poemas, é leitura fluida que
revela lugares onde se demora como se fosse possível, e o instinto do leitor
atento avisa: aqui é bom ficar. O autor intitula cada parte de MORADA por “livro”. Assim, o livro I é “O caminho das rãs”, o livro II é “O eu fora de si e o outro-tu”
e o livro III é “Canção de Lázaro”. Numa leitura dessa tríade de títulos capta-se
o movimento de uma perspectiva da vida, ou das consciências, sob prisma cristão
revisitado: a metamorfose das formas básicas, o dilema do autoconhecimento e a
transcendência em ressurreições diárias porque é preciso perder-se para se
encontrar.</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjWbDfkXvllHZ-VJTuNVQ8Ldx71Qi5TP1ChHdwPpmVZH6cvmEdEyOxG4qlEHX8HroQUY5hGogpRdr-w519kn7va0KQMzv_f9jC904hzUPr3KAC0ZOLvJKeIR5faRjuS5RS50hRaaaoMRbRsd6Ff5a_zwjzO2Gig2Ry9Eo6rYq_rNn28M3R1wIP5VciP=s2048" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1536" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjWbDfkXvllHZ-VJTuNVQ8Ldx71Qi5TP1ChHdwPpmVZH6cvmEdEyOxG4qlEHX8HroQUY5hGogpRdr-w519kn7va0KQMzv_f9jC904hzUPr3KAC0ZOLvJKeIR5faRjuS5RS50hRaaaoMRbRsd6Ff5a_zwjzO2Gig2Ry9Eo6rYq_rNn28M3R1wIP5VciP=w300-h400" width="300" /></a></div><br /><span style="text-align: justify;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em MORADA há muitas habitações,
cada um dos três livros tem em média de 40 poemas dispostos dois por página. O
livro é fininho, tem 88 páginas, mas é denso como água que se cortando com a
navalha da palavra desse em vinho. Sob a primeira camada de inspiração que se
lê, o cotidiano reina em reflexões etéreas de matéria ancestral, um rio mítico
cintilante move-se em correntes marítimas invisíveis fundamentais aos ciclos da
manutenção e restauração da vida fluindo para algum lugar distante e fundo dentro
nós, porque <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">“eu sou a eterna
criança brincando com poeira cósmica <o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">de fazer e desfazer
bicho, gente e planta<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">até que eles façam a
si mesmos e eu a mim”<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Numa linguagem sem excessos e
simples como só quem esmera muito chega ao ponto, Marcelo Luz escreve joga com as palavras contorcendo seus significados, conflui serenas tempestades,
águas conhecidas que, antes de estarem no copo ao alcance da sede, certamente
molharam as margens dos Nilos e dos Jordões e dos Amazonas. A poesia de MORADA
parece feita no quintal do leitor e mesmo assim fala do mundo. O poeta de
MORADA faz acrobacias linguísticas alcançando equilíbrio perene, porque<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">“Não fosse a máquina
de escrever / fóssil parceira das exumações diárias, <o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">estaria em constante
vaga do grande tempo”<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Seja na constatação do homem
maduro que “a gente nunca deixa de ser o menino cor-de-jamelão” ou na metafísica
de saber-se “séculos após séculos”, o poeta esclarece: a criança em nós nos “guia
pela mata escura / a desvendar labirintos, / mitos, matos e medos” e propõe que a vida é mesmo encruzilhada, que viver é realmente perigoso. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos desvãos do silêncio necessário a leitura
de poesia, os poemas do livro se conectam em narrativas cuja jornada-leitura desperta
novas moradas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Marcelo Luz não lamenta enquanto
rememora, as reminiscências transmutadas em versos são da natureza daquela
poeira cósmica com que o oleiro-poeta sugere para que encontremos novos cômodos,
parada e descanso, porque <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">“Aos pés formigueiros
da grande mãe mineira, / na saca dos mistérios chuleados a mão,<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">ruma de histórias em
retalhos / guardando vez de se deitarem na colcha”<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">MORADA também revela estados de
graça. É matéria poética sapiencial, mas não do tipo “conselheira” que dá dicas
em manuais de autoajuda a quem procurasse afastar-se da autoimagem identificada
com o ego e ressentidos acumulados inutilmente porque<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">“Em verdade, Deus
está em tantas <o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">moradas que, muitas
vezes, <o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">ser ateu é uma grande
benção – <o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">conservar a casa
vazia!” (pg 104)<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em MORADA o leitor encontra
abrigo. Ali tem água limpa, mas também sede.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Um estado alterado de percepção que eleva, insights sobre o labirinto-mito-mato-medo
e luminescências. Presentes no Agora, semelhante a Cecília Meirelles, o poeta
Marcelo Luz é irmão das coisas fugidias e canta sua vida completa porque<span face=""Helvetica",sans-serif" style="background: rgb(250, 250, 250); color: #333333; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">“Há sempre espaço a
mais / para se caber aqui. <o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Aqui único lugar /
Agora é instante aberto, / agora de novo já”<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Sabedor da natureza humana, o poeta constrói sua MORADA evocando,
desde as epígrafes dedicadas a Lupicínio Rodrigues, Manuel Bandeira e ao Livro
de Jó, delicadas tramas-passagens ou portas de entrada que continuam abertas
depois da leitura, porque <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">A solidão, que dos
postigos<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Me namora há tempos,
não entre mais.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Abriu o caminho
principal,<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">O príncipe na cama
coberta de folhas.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Nada afeta o frescor
dessa paisagem.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Ajudo a tirar a blusa<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">E pula para o lado de
dentro<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Sem tirar os sapatos.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O título do último poema do livro
de Marcelo Luz, MORADA, é um sinal de interrogação (?) e nele uma justificativa
abre novas possibilidades para quem lesse o poeta em buscar de respostas
definitivas. Afinal, o que temos de definitivo na obra e na vida? O fim
temporário, talvez. Ao fechar MORADA sentimos que as janelas ficaram abertas,
que um João-de-barro continua a construir novidade em nós, e podemos dizer como
o poeta nesse último poema que <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Aqueles que me lerem<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Decerto se
perguntarão<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Por que há morte<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Eu tudo que escrevo.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">Confesso:<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">“só escrevo o que não
sei”.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">___________________________________<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Baltazar Gonçalves é historiador, poeta escritor membro da
Academia Francana de Letras <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">SERVIÇO: o livro MORADA de
Marcelo Luz saiu pela Edições Mundo Contemporâneo <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">e pode ser adquirido, também, com
o próprio autor <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">no seu perfil do facebook: <a href="https://www.facebook.com/marcelo.luz.73345">https://www.facebook.com/marcelo.luz.73345</a>
<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-7914215659207588762021-12-29T05:19:00.003-08:002021-12-29T05:19:27.549-08:00AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE de José Saramago <p style="text-align: justify;"> Um amigo perguntou o que eu estava lendo e eu disse que “muita coisa desinteressante”. Depois concertei a frase e disse que estava relendo um romance do Saramago, autor português que gosto tanto quanto gosto de Fernando Pessoa. O tal amigo que não lê nada além das frases motivacionais das redes sociais disse “Saramago é velho, inofensivo e lembra um cágado”. Essa descrição parece coerente se o escritor estiver calado, do contrário, o poder corrosivo das palavras que ele profere te obriga rever suas primeiras impressões. Não é velho embora na foto tenha 82 anos ainda, não morreu pois é eterno, e nem é inofensivo batráquio de água doce, mas é um dragão cuja língua inflamada, portuguesa, renova o sentido perdido das relações humanas. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiLYlAhTwt7cnC6TkW4Tldm4ISxjeh-dM0C5gDZlZgkWZKnHh3tMKZYk5Si_Kv2E3myI2tJctUcUoOEmfJc_UqVo1MNm1sMPOa6vFDoAyYzrwgfyYbVnCJTD8FivHz0qZgSAOK8TgsS59cvXH5Rrem8p7QwtcbAlUeOMLe6HjL8L_w6etPkvrxz0kXr=s2479" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2479" data-original-width="1654" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiLYlAhTwt7cnC6TkW4Tldm4ISxjeh-dM0C5gDZlZgkWZKnHh3tMKZYk5Si_Kv2E3myI2tJctUcUoOEmfJc_UqVo1MNm1sMPOa6vFDoAyYzrwgfyYbVnCJTD8FivHz0qZgSAOK8TgsS59cvXH5Rrem8p7QwtcbAlUeOMLe6HjL8L_w6etPkvrxz0kXr=w268-h400" width="268" /></a></div><br />O romance em questão que teve lançamento mundial no Brasil é AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE, é um livro de 207 páginas denso. Nele, Saramago desarticula os pilares da civilização ocidental relatando a “inverídica porem certa” história de um país beneficiado com a interrupção da morte. Incertezas à parte, o medo da morte manipulado desde sempre dera origem a estruturas politicas que pareciam perpétuas e que, agora, agonizam. Estado e Igreja não são os únicos corpos que cheiram mal nesse país inventado e cada cidadão terá que conviver com a falência das funções de seus órgãos e a agonia de não ter fim o que já não tem utilidade. <p></p><p style="text-align: justify;">Neste cenário apocalíptico, surge a impossibilidade do amor: a Morte, personagem principal, não consegue levar um certo musico e, intrigada pelas razões do seu fracasso, determinada em conhecer melhor aquele homem, se materializa num corpo comum não assustador e avança sobre o cotidiano monótono. O encontro pode mudar ou reverter tudo. </p><p style="text-align: justify;">Aqui não existe saída, a vida continua circunscrita aos limites do medo. Ninguém vai morrer e, no entanto, todos já estão mortos. O prazer de ler um romance de Saramago, qualquer um da vasta obra, é igual a alegria de encontrar um conhecido nosso em meio a multidão inquieta de uma cidade qualquer em que nós estamos acostumados. </p><div><br /></div>Baltazar Gonçalves Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-87750481299805891272021-12-14T11:19:00.001-08:002021-12-14T15:18:25.626-08:00O PRIMEIRO NATAL DE PEDRO EM FAMÍLIA | de Paulino Cassoma, escritor angolano <p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Era a véspera de natal em 2015, e bem no coração de Luanda vivia pelas ruas da
Maianga um menino cuja vida fora despojada pelo destino. Seu nome era Pedro, era órfão de pai e mãe, não tinha nem mesmo um lugar para viver ou se abrigar
do frio ou calor.</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiNS1z7sEiN_1h0C40Wbzg-CXkwu72tJPLAgGxCfLhAiPf9F94kaXZoZFglsq8jclCXUuhp7w2mvxRCetqLMdnAt2F3jQW_IImYEuWsePTFpvEmSDwKpTVgBJ6dbJ1tJUzS4MttlL8PU1HgMy0qgOsh1KYwDT-6MFY0K4Mc_qu5ppqv3hwk1lLWCue6=s1920" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiNS1z7sEiN_1h0C40Wbzg-CXkwu72tJPLAgGxCfLhAiPf9F94kaXZoZFglsq8jclCXUuhp7w2mvxRCetqLMdnAt2F3jQW_IImYEuWsePTFpvEmSDwKpTVgBJ6dbJ1tJUzS4MttlL8PU1HgMy0qgOsh1KYwDT-6MFY0K4Mc_qu5ppqv3hwk1lLWCue6=w400-h225" width="400" /></a></div><br /><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A vida era para este menino como um
muro carregado sobre as costas. Andava sempre cabisbaixo, seus olhos refletia a
maior dor já sentida, suas roupas estraçalhadas no corpo, fazia tempo que não
colocava nenhum pingo d'água sobre sua pele, o menino fedia à porco numa
pocilga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Num dos dias, decidira andar pelas
mesmas artérias da cidade e parara num dos super mercado onde encontrara um
lugar para sentar ao lado de uma das portas. Neste momento, um carro entra e é
colocado junto ao espaço perto da porta onde estava o menino. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Assim que sai o dono carro um menino
também sai de dentro do mesmo, era o filho do dono. Enquanto o senhor fechava a
porta o menino deu a volta ao carro, foi que deu conta que ao lado da porta
tinha alguém.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">– Olá, como te chamas <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">– Pedro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">–Eu sou o Márcio <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Depois desta apresentação, Pedro não
falou mais nada. Continuou calado cheio de vergonha olhando para o chão. Márcio
persistia:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">– O que fazes aqui sozinho e onde
estão os teus pais? E por que estás tão sujo com roupas rasgadas? Eram tantas
perguntas que Pedro não tinha como começar a responder. Pedro contou a sua
história e terminou dizendo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">– Meus pais já não vivem, não tenho
com quem ficar, vivo nas ruas e me alimento de vez enquanto. Márcio não conseguia
guardar os olhos húmidos, comoveu-se num olhar fixo enquanto seu pai voltava para
o carro a sua procura e encontrou o filho diante de Pedro com o semblante
bagunçado e os olhos com acúmulo de águas salgadas, e perguntou: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">– O que fazes aqui e quem é este
menino mal vestido e sem aparência? Por que não entrou na loja comigo? Márcio
respondeu: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">– Eu quero levar este menino conosco,
pai! Pelo menos para passar o natal com ele.<br />
O pai não conseguia entender a razão de seu filho querer tanto levar o menino
com eles. Então perguntou outra vez: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">– Por que, filho? Você sabe que é
contra lei levar alguém assim, sem mais nem menos. Podemos até ajudá-lo a
comprar algumas roupas e dar comida, mas não podemos levá-lo! Márcio, com
lágrimas caindo, retrucou<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br />
– Ele não tem onde ficar, pai. Seus pais morreram há muitos anos.<br />
O pai ficou ali parado e pensativo, procurando uma solução. Então disse: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">_ Vamos adotá-lo e levá-lo para
casa, mas temos de ligar à sua mãe. <br />
Márcio pulava de alegria e satisfação. Afinal, iria ajudar alguém. Mas o Pedro
não conseguia sorrir, nem mesmo mostrar contentamento. Era compreensível o seu
silêncio, viveu muito tempo sozinho sem ninguém para conversar ou brincar.
Quando apresentaram a proposta ao menino, ele aceitou ir com eles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Como faltavam três dias para o
natal, o pai do Márcio ia até ao departamento da Assistência Social para tratar
sobre as condições da adoção do menino. No departamento disseram que poderia
ficar com o menino enquanto aguardava os documentos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A notícia chegara até em casa.
Márcio não conteve a a alegria!<br />
Chegando a noite de natal, Pedro tinha tomado um banho e vestira a sua melhor
roupa que a mãe do Márcio havia comprado e assim que saiu do seu quarto
encontrou aqueles que seriam sua família. Todos aplaudiam felizes e
desejavam-lhe boas vindas à sua nova casa. Finalmente, pela primeira vez, Pedro
soltou um sorriso e disse: Obrigado. Agora posso sorrir. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Passando algum tempo, os documentos
da adoção saíram. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Agora Pedro podia
viver e comemorar os natais sem ter medo algum. Não mais sozinho, em família.
Márcio se sentia orgulhoso e feliz por ter ajudado aquele menino. Ele ganhara
um irmão da sua idade para brincar e partilhar muitas outras coisas. Foi um
natal mais solidário da sua vida, pois, ele usara a sua sensibilidade de criança
para convencer seus pais e ajudar aquele menino que há muito fora despojado
pelas circunstâncias cruéis da vida.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span lang="PT" style="font-family: "Garamond",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">Paulino Cassoma nasceu no Bié em 1992,
filho de pais angolanos. Estudante do 1º ano do ensino superior no Instituto
Superior de Ciências da Educação (ISCED) em Luanda, no curso de Ensino da
Língua Portuguesa. Escreve desde 2014, e tem vários poemas publicados. É professor
desde 2013. Desde sempre gostou de escrever e procura emprenhar-se na escrita e
leitura de obras literárias nacionais e estrangeiras. Nas redes sociais,
Paulino Cassoma usa o pseudónimo “Grandesoba”. Publicou na antologia TANT MAR
ENTRE NÓS: DIÁSPORAS.<o:p></o:p></span></span></p><span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Garamond",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><b><span lang="PT" style="color: #222222; font-family: "Garamond",serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O especial CONTO DE NATAL
ANGOLANO publica neste blogue, em dezembro 4, narrativas com a curadoria do
professor e escritor membro da AFL Baltazar Gonçalves.<o:p></o:p></span></b></p><br /></span><p></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-80316014128628259012021-12-08T04:49:00.004-08:002021-12-14T15:17:56.388-08:00UM CONTO DE NATAL | de Sandro Sebastião, escritor angolano <p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-char-indent-count: 2.0; text-indent: 24.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">A manhã já cheirava à quente, a alegria transbordava-se pelo
brilhar do pouco sol, algures mais próximos, tocava algumas músicas infantis, a
felicidade ela aquela, que até fazia os pássaros piarem num tom mais aguçado,
mais uma vez, era o esperado natal abraçando as vidas que ainda persistiam na
estrada do viver. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-char-indent-count: 2.0; text-indent: 24.0pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-lzlm9_ryEvQ/YbCpvD-nCbI/AAAAAAAAeKs/wmB5ilHYkNAlz2EAg_3HXQs2nV8Eahs7QCNcBGAsYHQ/s480/sando%2Bsebasti%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="480" height="426" src="https://1.bp.blogspot.com/-lzlm9_ryEvQ/YbCpvD-nCbI/AAAAAAAAeKs/wmB5ilHYkNAlz2EAg_3HXQs2nV8Eahs7QCNcBGAsYHQ/w640-h426/sando%2Bsebasti%25C3%25A3o.jpg" width="640" /></a></div><br /><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; mso-char-indent-count: 2.0; text-indent: 24.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">Aos poucos as fumaças já consumiam os espaços, bolos a cozerem
- para economizar o gás, usava-se os fogarelos, eram montes de carvão
decorrando cada canto, para dar mais vida ao fogo -, peixes nas grelhas, e um
monte de coisas para mais um dia, sim, um dia normal, mas não totalmente
qualquer. Os jovens do bairro Gesso, uma das áreas do município de Cazenga -
província de Luanda, mantiam quase uma certa tradição para todos os anos, no
princípio de dezembro, davam um novo aspeto às incansáveis ruas que acolhiam
gentes de todas as áreas, pintar as paredes, grafites e desenhos eram coisas
que nunca faltavam, sem deixar de fora as músicas altas, o que às vezes até
incomodava alguns mais velhos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;">O relógio marcava
10:30', Sango, Ndalu e Mbaxi, sentados na sala de estar, grudado os olhos na tv
plasma, presa sobre a parede, apreciavam desenhos animados que passavam no
Canal Panda, um dos canais infantis disponibilizado pela Zap, enquanto
aguardavam a mãe com a preparação da refeição e outras coisas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Ó Ndalu, vai ainda
ver se a mamã já terminou! - Falou Sango ao Ndalu, ela é a mais velha entre os
irmãos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Mana também, Mbaxi
mesmo está ali, só queres me mandar - resmungou o Ndalu, tinha os olhos
grudados na Tv, a doçura do desenho animado era aquela, que nem dava para
perder de vista em nenhum segundo - eu tô assistir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Eu quero mesmo você,
o Mbaxi não, você também já assistiu bué. - Disse a Sango entre risos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- E a mana não pode
ir? - Questionou o Ndalu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Vai só we, vou te
dar bocado na minha gasosa. - Respondeu ela, talvez assim conseguiria mandá-lo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Tás mentir! -
Exclamou o Ndalu com desconfiança.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Juro mesmo we, vou
te dar, não estou a mentir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Juras mesmo com dedo
mindinho? - Questionou novamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Juro mesmo, vai já
então, senão já poderias voltar. - Disse a Sango já quase sem paciência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;">O clima da casa
permanecia calma, a tv ligada, a música tocando na rádio, o barulho das panelas
e talheres dançando na cozinha, a paz e o amor reinavam no pequeno cómodo.
Ndalu obedeceu a irmã, em menos de 1 minuto já havia voltado na sala:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- A mamã já vai
terminar, falou que só falta bocado. - Ele avisou retomando o assento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- E assim mesmo
custou? - Questionou a Sango biliscando para ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Custou só um pouco,
perdi bué de partes do boneco. - Respondeu ele sem dar-se o trabalho de
olhá-la.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Não perdeste nada. -
Falou ela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Ainda bem que vais
me dar na tua gasosa. - Rematou o Ndalu feliz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt; text-indent: 24pt;">Passado algum tempo, o pai saiu do quarto e juntou-se aos
filhos, enquanto assistiam, aguardavam pela melhor cozinheira do mundo, assim
como os filhos chamavam a mãe, para saciá-lo com mais um daqueles pratos feito
com todo carinho e amor. Enfim, a mesa estava pronta, era fumbua - um dos
pratos típicos da região norte de Angola, são folhas que se parecem com kizaca
(comida extraída das folhas da mandioqueira), mas são diferentes, normalmente
prepara-se com a ginguba moída - muamba -, óleo de palma e outros produtos -,
fúnje de bombó e frango grelhado, sem deixar de fora a companhia das gasosas, a
família completa estava sentado na mesa, saboreando da refeição.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Você mesmo não ouve
de lamber as mãos sempre que comer. - Reclamou a mãe ao Mbaxi.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Eh, tá cuiar bué
mãe! - Respondeu o Mbaxi enquanto dava mais uma lambida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Eu também tô chegar
já lá. - Falou o Ndalu esboçando um breve sorriso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Chegar mais aonde
você também? - Questionou a mãe. O pai nem dava-se o trabalho de interferir na
conversa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- De lamber prato we
mamã, esses dois cabeças grandes não ouvem. - Respondeu a Sango fazendo
carretas ao Ndalu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Esses miúdos, rumm!
- Falou a mãe olhando para eles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Assim mesmo a comida
feita pela melhor cozinheira do mundo, ninguém vai lamber os dedos? -
Questionou o pai, não aguardava por qualquer resposta - Deixe os miúdos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- E assim lhe
incentivas mais. - Respondeu a mulher olhando para o marido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Eu também vou
lamber. - Berrou o pai rindo da cara da esposa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Eu também vou mesmo,
a mamã cozinha mesmo bué! - Exclamou a Sango entrando na diversão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Ehh! Isso não é
azar, ó vocês! - Falou a mãe sorrindo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Não é azar, é do
babulo. - Respondeu o pai olhando para os filhos aguardando o sinal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Wowo... -
responderam eles em coro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";">- Por isso eu amo-vos,
feliz natal á todos! - Exclamou a mãe radiante de alegria. Essa família era o
maior presente ganhado na vida, era o seu empreendimento e, por nada nem por
ninguém largaria a mão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Roboto Light";"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt; text-indent: 24pt;">O dia estava sendo marcado de grandes momentos, a família toda
havia saído para um passeio básico, tiraram fotos e divertiram-se. Não
precisavam ter muito para celebrar mais um natal, precisavam é ter o mínimo e,
acima de tudo, o amor, a paz, a harmonia, a saúde e a união no seio dos
membros, era tudo que mais importava, o resto era resto mesmo. E, assim foi um
dia, mais natal em família.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 24pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 24pt;">________________________</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 2.0pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Garamond",serif; font-size: 12.0pt;">SANDRO
ARMANDO SEBASTIÃO é angolano e reside em Luanda, no município do Cazenga. Tem
textos publicado em diversos sites e tem participado em antologias, colectâneas
e revistas. Para além da Literatura, também tem um legado ligado às outras
artes, são elas: Música desde 2014; Teatro - actor, dramaturgo e encenador -
desde 2014 e Cinema – actor e roteirista - desde 2019. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 2.0pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Garamond",serif; font-size: 12.0pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><b><span lang="PT" style="color: #222222; font-family: Garamond, serif;">CURADORIA do</span></b><b><span lang="PT" style="color: #222222; font-family: "Garamond",serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> especial CONTO DE NATAL ANGOLANO: Baltazar Gonçalves que é professor e escritor poeta membro da Academia Francana de Letras. <o:p></o:p></span></b></p><span style="font-size: 12pt; text-indent: 24pt;"></span><p></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-72030063986654697892021-11-20T04:57:00.009-08:002021-11-20T05:33:48.875-08:00resenha de CINELÂNDIA, do poeta Paulo Rodrigues<p><span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16px; text-align: justify;">Quando o poeta maranhense Paulo Rodrigues sai às ruas do Rio de Janeiro seus olhos são câmeras nas mãos, e na cabeça uma ideia toma forma viva: CINELÂNDIA.</span></p><p><span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16px; text-align: justify;"><br /></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 107%;">A voz do morro rasgou a tela do cinema</span><span style="color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 107%;"><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">E começaram a se configurar</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Visões das coisas grandes e pequenas</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Que nos formaram e estão a nos formar</span><o:p></o:p></span></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 107%;">CINEMA NOVO, Caetano Veloso<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Livro de poemas curtos e cenas (infelizmente) cotidianas, é de leitura
rápida mas que pede pausas pois é preciso digerir a beleza incrustada na miséria e resolver
o dilema: o que se faz com o sereno incômodo que o Belo provoca em nós?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-BF2K-n6FS5I/YZjwkpb9-fI/AAAAAAAAeHI/1bpK648Wf3Q0dKrwCvZp56lZ_8C6PdRrwCLcBGAsYHQ/s2048/257789667_10225589651423864_3160585841770466494_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1704" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-BF2K-n6FS5I/YZjwkpb9-fI/AAAAAAAAeHI/1bpK648Wf3Q0dKrwCvZp56lZ_8C6PdRrwCLcBGAsYHQ/w333-h400/257789667_10225589651423864_3160585841770466494_n.jpg" width="333" /></a></div><br /><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Esse livro do poeta Paulo Rodrigues tem estrutura simples, arquitetada
em três momentos e dirigida como um filme: CLAQUETE - CENA 1 - CENA 2 - THE END.
A beleza nos arranjos de versos sem rimas, mas de ritmos cadenciados, vem da
feiura e da sujeira que os sistemas econômicos geram, dos maus tratos
impingidos àqueles que estão à margem das margens, no cômodo de aluguel de onde
seremos despejados, na calçada frente à igreja onde a classe média expia sua
culpa, nas sarjetas ou no desejo de quebrar o oratório enquanto os outro rezam
de joelhos porque AS MANHÃS NÃO TÊM OFERTAS, NEM PROMOÇÃO:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">os filhos olham para a escada<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">há uma lesão na luz,<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">de todos eles<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">o mais velho desce primeiro<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">e pergunta:<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">apago as velas<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">ou quebro o oratório do quarto?<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">os outros ajoelharam;<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">amarraram as camisas,<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">seguram o terço da mãe.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">CINELÂNDIA, p.61<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ao manusear a linguagem e as
tecnologias da palavra, a sensibilidade do artista Paulo Rodrigues é combatente.
Esse Drummond de Santa Inês nos inquire como o outro na primeira quadra do
século XX: “Preso à minha classe e a algumas roupas, / vou de branco pela rua
cinzenta. / Melancolias, mercadorias espreitam-me. / Devo seguir até o enjoo? /
Posso, sem armas, revoltar-me?”. E como se respondesse a pergunta do poeta mineiro, o
maranhense nos brinda com AS MANHÃS SÃO PORTA RETRATOS:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">durmo entre dois
filhos.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">eles apertam-me<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">como um comício<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">aperta o povo.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">abro os olhos,<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">ainda é madrugada.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">encaro pés<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">que parecem um pouco
com braços<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">mas não abraçam<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">a vida
(contraditória).<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">fico no fundo da
cena.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">aguardo uma luz<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">que nasce do fundo<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">da rua.<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">CINELÂNDIA, p.19<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p><span style="background-color: white;"><span style="color: #444444; font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;">Sem explicitar ideologias panfletárias, nas ruas becos vielas praças </span>mocambos<span style="font-size: 12pt;"> e quartos de despejo, a “rosa do povo” abre-se estandarte nos versos de Paulo Rodrigues
denunciando a exploração predatória do homem pelo homem nesse zoológico pós-moderno:
a Cinelândia é aqui, agora do outro lado rua onde o leitor está.</span></span></span><span style="color: #444444; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: #444444; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; mso-spacerun: yes;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">O comum abjeto nas ruas tomado por normal, o ser humano exposto à
degradação que a pobreza e a exclusão legam às comunidades em todo país; o
poeta revela as misérias humanas: tanto nas relações de poder estabelecidas há
séculos, quanto a impotência dos sujeitos-personagens feitos à semelhança do criador.
Somos inseridos, no tempo de uma piscadela, no cenário ressequido de onde ATÉ O
CÃO FOI EMBORA:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">amanheci sem pipas no céu,<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">sem vento de praia,<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">sem uma flor na boca.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">havia um piano abandonado<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">no meio da sala.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">CINELÂNDIA, p.67<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">O conjunto de poemas do livro de Paulo Rodrigues é puro movimento,
fotogramas do registro do real entrecortado pela subjetividade alerta, consciente
dos pontos cegos de intersecção entre o que pode ser mudado e perdura arrebatador.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Na leitura de CINELÂNDIA continuamos o processo de edição das cenas e mergulhamos
no interior da nossa própria experiência para trocar indignação e afeto, somos banhados
por aquela luz difusa com que Felini projetou Satyricon e bebemos as imagens sem
filtros criadas por Paulo Rodrigues. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">O poeta recompõe cenas de curta duração, mas de alto impacto, seja pelo
uso da linguagem ou pelas referências sem metáforas descuidadas com que escreve
contraluz iluminando sobras. Impactado pelos efeitos visuais das imagens
poéticas, o leitor certamente se sentirá como eu me senti, absorvido, porque...</span><o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">há milhões desses
seres<br />
Que se disfarçam tão bem<br />
Que ninguém pergunta<br />
De onde essa gente vem<br />
São jardineiros<br />
Guardas-noturnos, casais<br />
São passageiros<br />
Bombeiros e babás<br />
Já nem se lembram<br />
Que existe um Brejo da Cruz<br />
Que eram crianças<br />
E que comiam luz<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">(BREJO DA CRUZ, Chico Buarque)</span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #202122; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">No Rio de
Janeiro, o nome <i>Cinelândia</i> popularizou-se a partir dos anos 30
quando dezenas de teatros, boates, bares, cinemas e restaurantes instalaram-se
na região <span style="background: white;">entorno da </span><b style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Praça Floriano</b><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">, no </span>centro englobando a área desde a
Avenida Rio Branco até a Praça </span>Mahatma Gandhi onde antes ficava
o Palácio Monroe. Os versos do poeta tomam a <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>referência “diversão e cultura” e nos entrega
os destinos daqueles indigentes que só aparecem nas páginas policiais das notícias
populares e obituários onde seu nome pouco ou nada importa. </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os habitantes da
CINELÂNDIA de Paulo Rodrigues são aqueles que foram proibidos de entrar na “disneylândia”,
no “maravilhoso mundo do consumo”, esse livro <span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">dobra, cobra e cobre, desde as ruas de Santa Inês até os arcos da Lapa no Rio, nossa perplexidade e assombro deixando-nos frente ao Cristo; indiferente, mas ainda redentor. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Baltazar Gonçalves é historiador, escritor poeta membro da academia Franca de Letras. Seu segundo livro de poemas "DEPOIS EU CONTA: DIÁRIO DOS MISERÁVEIS" foi lançado pela editora Penalux. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">ONDE COMPRAR O LIVRO?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Direto com o autor no seu perfil do facebook: <a href="https://www.facebook.com/profile.php?id=100004051167045">https://www.facebook.com/profile.php?id=100004051167045</a>
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Ou no site da Editora: <a href="http://www.editorafolheando.com.br/pd-8bceaa-cinelandia.html?ct=&p=1&s=1">http://www.editorafolheando.com.br/pd-8bceaa-cinelandia.html?ct=&p=1&s=1</a>
<o:p></o:p></span></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-75398951143076750762021-11-18T08:25:00.003-08:002021-11-18T08:27:02.992-08:00OURO DE TOLO: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA JÁ!<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Enquanto
grande parte da população passa fome, a Bolsa de Valores (B3) inaugurou esta
semana (16/11) uma escultura de um touro dourado em frente à sede no centro
histórico de São Paulo. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-336CU9VHh3Q/YZZ9vWfWQ-I/AAAAAAAAeGo/k_F6oyRxNbsF1LQkn-2kMgCk_grHwgNSgCLcBGAsYHQ/s1250/20211117081136_2a242a5f729e461dc31a6b08014320d0a8974bacbb047a691e592ff4eaafaf26.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1250" height="154" src="https://1.bp.blogspot.com/-336CU9VHh3Q/YZZ9vWfWQ-I/AAAAAAAAeGo/k_F6oyRxNbsF1LQkn-2kMgCk_grHwgNSgCLcBGAsYHQ/s320/20211117081136_2a242a5f729e461dc31a6b08014320d0a8974bacbb047a691e592ff4eaafaf26.jpg" width="320" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">O
"Touro de Ouro" é uma réplica do Touro de Wall Street, instalação em
bronze no distrito financeiro de Nova York, nos Estados Unidos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-m_rLJTVo0QY/YZZ96zbvbfI/AAAAAAAAeGs/aJbVcESQoN06Pm9V272NQcSNFvm4H7GGACLcBGAsYHQ/s800/image_processing20211118-32129-7ojaln.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="800" height="256" src="https://1.bp.blogspot.com/-m_rLJTVo0QY/YZZ96zbvbfI/AAAAAAAAeGs/aJbVcESQoN06Pm9V272NQcSNFvm4H7GGACLcBGAsYHQ/s320/image_processing20211118-32129-7ojaln.jpeg" width="320" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Militantes de causa sociais e ONGs organizaram um churrasco com milhares de moradores de rua e famílias em situação de vulnerabilidade em frente ao OURO DE TOLO, a mensagem é clara: DISTRIBUIÇÃO DE RENDA JÁ!</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">Protestos
estão mobilizando discussões e dando visibilidade a quem precisa de fato que os
governos implementem políticas sociais emergenciais que possam amenizar de
imediato a miséria e, a longo prazo, definir horizontes democráticos e
inclusivos.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"> </span></p>
<p><span style="font-size: 12pt;">Baltazar Gonçalves</span> </p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-12741417851522060222021-10-14T09:01:00.007-07:002023-08-11T06:54:00.350-07:00EU PRECISA<p>Não sei dos outros, falo de mim</p><p>Eu preciso perfurar meu crânio </p><p>Vazar óleo e sal e pus e sangue </p><p>Trilhões de milhões de megabits </p><p>Da repetição inútil hospedeira </p><p>Preciso de provedor A.tômico</p><p>De uma giga paltaformATLAS </p><p>Que armazene o grande nada</p><p>Que estão me vendendo fora </p><p>E insistem enfiar no meu peito</p><p>Minha cucaNÓICA lisérgica </p><p>parabólicABERTA e rodopia estática </p><p>Se caleidosCOPIO mantras antigos, </p><p>Se meu sateliteCÓSPICO num sítio</p><p>Aposento o roçado na quinta vazia</p><p>E fico tal qual um quintal do tao </p><p>Com meus livros e meus amigos</p><p><br /></p><p>Baltazar Gonçalves </p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-jPzvP150i2Q/YWhUTljYVCI/AAAAAAAAeBE/cNfWMBxDxd4u9F4CTwiDnBeZtoLT50VswCLcBGAsYHQ/s1024/211008-DelzioMarques-Tanto%2Bmar%2Bentre%2Bn%25C3%25B3s-Bill-0331.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="683" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-jPzvP150i2Q/YWhUTljYVCI/AAAAAAAAeBE/cNfWMBxDxd4u9F4CTwiDnBeZtoLT50VswCLcBGAsYHQ/w266-h400/211008-DelzioMarques-Tanto%2Bmar%2Bentre%2Bn%25C3%25B3s-Bill-0331.jpg" width="266" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><p><br /></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-54545645660598732452021-09-24T07:21:00.003-07:002021-09-24T13:33:56.279-07:005 poemas de Lucila Silva Telles <p style="text-align: justify;">Conheci a poeta Lucila Silva Telles assistindo a live de lançamento do seu livro #semfiltro (lê-se: hashtagsemfiltro) editado pela Editora Patuá. Gostei de ouvir a autora e o editor Eduardo Lacerda conversando sobre os temas do livro e a inspiração dela na realidade representada nas redes sociais com muitos filtros. Eu esperava uma poesia ácida ou cruel, sínica ou irônica, uma poesia reveladora da perversidade que desfigura os sujeitos em nome de uma suposta perfeição praticada nas redes. Mas Lucila compõe seus poemas usando de uma linguagem limpa cristalina, sem contorcionismos ou preciosismos; ela cobre os temas que aborda com finas camadas do mesmo filtro íntimo com que a si mesma revela: gradualmente, sem rompantes ou pressa. Ler Lucila no seu primeiro livro ilumina frestas cotidianas da vida nossa; como se filtrando as realidades por ela dissecadas, transformássemos por instantes a vida numa leitura fácil e mais humana - sem filtros! O projeto gráfico da obra é impecável, muito bom ter o livro nas mãos, entre os textos há espaços em branco & preto para que o leitor/a respire projetando na leitura que faz suas próprias transparências. O livro está disponível no site da Editora Patuá, recomendo a leitura. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-flftb0K7pzY/YU3e29HqZpI/AAAAAAAAeAY/ye4UOIbPEhQvQVzcbhi2kNQYvgVMQeLtACLcBGAsYHQ/s2048/242816084_10225226758991780_4094758859456508086_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="2048" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-flftb0K7pzY/YU3e29HqZpI/AAAAAAAAeAY/ye4UOIbPEhQvQVzcbhi2kNQYvgVMQeLtACLcBGAsYHQ/w400-h400/242816084_10225226758991780_4094758859456508086_n.jpg" width="400" /></a></div><br /><p><br /></p><p><br /></p><p>amo certas coisas</p><p>outras não tão certas </p><p>se amo o certo</p><p>o errado me aparece</p><p>e sim</p><p>me parece que acerto </p><p>saio andando por aí</p><p>de mãos dadas</p><p>ou emprestadas</p><p><br /></p><p><br /></p><p>POR MAIS QUE TE AME</p><p>POR MUITO MENOS</p><p>TE DEIXO </p><p><br /></p><p><br /></p><p>noites me são caras</p><p>às vezes claras </p><p>guardo as noites da infância </p><p>quando do escuro do quarto</p><p>só via fantasmas </p><p><br /></p><p><br /></p><p>MEU QUARTO</p><p>SABE O QUANTO</p><p>ME QUASE </p><p><br /></p><p><br /></p><p>poemas não sei de cor </p><p>releio sempre</p><p>pela primeira vez</p><p>e às vezes me encanta</p><p>a sensação de déjàvu</p><p><br /></p><p>se são meus</p><p>penso</p><p>onde estava com a cabeça? </p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-6252761663486617522021-09-19T06:14:00.002-07:002021-09-19T07:47:04.064-07:00PARA CECÍLIA, BELO HORIZONTE <p> </p><p><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 18.6667px;"><b>Cecília é um presente na minha minha vida, fez a diferença quando as engrenagens puídas da eternidade me comprimiam envergando as minhas asas de poeta. Cecília estava lá quando recomecei a voar, livre. Só por hoje canto a liberdade em versos e, se alegro ou entristeço, sei que faz parte de ser humano. Nossa amizade vem de antes, o Tempo não sabe explicar, e não importa distância ou maré contrária, a poesia nos uniu para a eternidade. Quem dirá que o amor é maior que a amizade? Publiquei 5 poemas no meu livro "Diário dos miseráveis lançado em abril de 2021 pela Editora Penalux à nossa amizade. </b></span></span></p><p><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://1.bp.blogspot.com/-YNuSZmmtSCY/YUc2HXuTULI/AAAAAAAAd_g/oarx6NdvS-Alk92Vz0cWGvuG8vncrVs7ACLcBGAsYHQ/s4912/DSC01075.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4912" data-original-width="3264" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-YNuSZmmtSCY/YUc2HXuTULI/AAAAAAAAd_g/oarx6NdvS-Alk92Vz0cWGvuG8vncrVs7ACLcBGAsYHQ/w266-h400/DSC01075.JPG" width="266" /></a></b></div><b><br /><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 130%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><br /></span></b><p></p><p><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 130%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">TUDO QUE A POESIA
TOCA FICA SALVO</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">outro dia esse passarinho encantado
de penacho dourado<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">de belo horizonte com seus olhinhos
miúdos estrábicos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">me disse cantando que tudo que a
poesia toca fica salvo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">tudo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">tudo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">tudo que a poesia toca fica salvo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">botei fé naquele canto e cantei, cantei
e cantei<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">me sentia completo como um verso de
cecília<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">e trinei junto mesmo sem saber
cantar direito<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">tudo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">tudo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">tudo que a poesia toca fica salvo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 130%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 130%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">ELE | ELA<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele é punk anos oitenta, ela balada
dos anos sessenta<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele vai a meio da vida, ela iniciou
sua partida<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele traz feridas em carne viva, ela
as tem cicatrizadas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele traz à tona sua profundidade,
ela esconde e fica calada<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele é desassossego, ela
tranquilidade<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele noite, ela dia | ele dor, ela
alegria<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele escreve hermeticamente, ela
escreve simplesmente<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele é texto denso sabor whisky, ela
brilha raso transparente<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ele café, ela água da fonte<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">atravessaram pontes e apesar do
descompasso<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">toparam-se num ponto do espaço<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">e se entendem sem dificuldades<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">num lugar de tempo inexistente<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">talvez na eternidade<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 130%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">BELO HORIZONTE<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">o magma que escorria para o mar deu
de ficar em minas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">sem máculas, onipresente, eis a
majestosa pedra nua<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ensimesmada embainhou-se em dobras
de saias verdes<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">eu guardo o mistério dela nos
minérios em veios<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">a grande pedra estende-se até o
topo do mundo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">e se desfaz na praia inexistente<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ela espreita quem passa, eu escuto
quem para<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">sobre o pico da pronúncia lanço
redes<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">carrego os sonhos metálicos nesse
barco até o mar distante<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">e do alto avisto belo horizonte<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">a serra desce tão perto dos olhos <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">que depois do de lá do traço dela<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">do mundo nada nos chega<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">e podemos descansar nos braços da
encosta<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">o grito firme do sol afasta a
lembrança dos vícios<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">e eu afugento da memória a tristeza
fundamental<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">rabisco no relevo dessas linhas a
face de um deus cansado<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">se deito a vastidão da paisagem
inclinando o ombro<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">adivinho uma nascente e o salto de
uma cachoeira<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">o dorso prolongado da serra, doce
dobra de terra na terra<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">revela a nudez do minério revestido
de folhas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">na franja da serra iluminada sou
fóssil sonolento<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">desdobrando o testemunho das
alturas desse olhar<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">desço para o vale e mergulho no mar
de ondas verdes<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">onde a serra continua em mim os seus
mistérios<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 130%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">porque invento o oceano que há
muito tempo secara<o:p></o:p></span></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-18291810350975237432021-09-11T06:36:00.001-07:002021-09-11T06:36:07.548-07:00LAMENTO BOA SORTE <p> as cinzas da fazenda Boa Sorte</p><p>sobre os telhados em Franca</p><p>eram crinas de cavalos em chamas</p><p>era o grito das mulheres na mata</p><p>e a força inútil dos homens brutos</p><p><br /></p><p>as cinzas da fazenda Boa Sorte</p><p>sobre os telhados em Franca</p><p>era o gado sem saída queimado no pasto</p><p>a cobrir os quintais secos de fuligem triste</p><p><br /></p><p>sobre as coberturas altíssimas</p><p>feito tapete na esquina das ruas</p><p>a Boa Sorte ardeu em chamas</p><p>o que parecia asa de passarinho</p><p>sobrevoando a vila do imperador</p><p>era alma penada longe do ninho</p><p><br /></p><p>---</p><p>foto: G1 de 10/09</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-8N5p8gpIdSw/YTywryVhtqI/AAAAAAAAd_A/eJCHK8NumDwDrDZr7KQc4nybXSXRWbmMwCLcBGAsYHQ/s984/restinga.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="454" data-original-width="984" height="185" src="https://1.bp.blogspot.com/-8N5p8gpIdSw/YTywryVhtqI/AAAAAAAAd_A/eJCHK8NumDwDrDZr7KQc4nybXSXRWbmMwCLcBGAsYHQ/w400-h185/restinga.jpeg" width="400" /></a></div><br /><p></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-55601814319935883252021-09-04T12:46:00.004-07:002021-09-04T12:46:49.931-07:00contas de lágrimas <p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-90LUMMsNwdA/YTPNBSRCJPI/AAAAAAAAd-c/26PIuj6Ozj8wDFup4RezXJdJNWbA9UIxwCLcBGAsYHQ/s600/Maria-chorou-comigo%2B%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="330" data-original-width="600" src="https://1.bp.blogspot.com/-90LUMMsNwdA/YTPNBSRCJPI/AAAAAAAAd-c/26PIuj6Ozj8wDFup4RezXJdJNWbA9UIxwCLcBGAsYHQ/s16000/Maria-chorou-comigo%2B%25282%2529.jpg" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal">Conta a lenda que Maria refez o caminho do Gólgota muitas
vezes depois do martírio do filho. Talvez em busca de aceitar o fim da
esperança, ela queria compreender tamanha violência perpetrada contra o amor semeado
nas palavras de Jesus. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Naquele dia, enquanto caminhava Maria contemplava os
mistérios da vida. Para cada passo que dava, uma lágrima caía do seu olhar cansado.
Dentro de cada gota salgada a trajetória do filho reluzia e na terra, cristalizadas
em forma de contas, as lágrimas caiam. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Agora o sol dizia adeus e no crepúsculo ardia a última chama
de luz, Maria voltava do Gólgota pelo mesmo caminho esgotada mas queimando por
dentro. Era como se o sol que se punha no horizonte raiasse dentro dela novo
dia. Então ela encontrou a primeira lágrima em forma de conta, era mistério gozoso
a<i><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;"> Anunciação do anjo e a encarnação do
Verbo, sua <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>visita a prima Isabel, o nascimento
do Jesus, na gruta fria em Belém, a</span></i><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">
apresentação da criança no templo e o dia em que o menino se perdeu na sinagoga
e foi encontrado ensinando filosofias. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">Só depois de encontrar a segunda conta
de lágrima é que Maria se deu conta do desejo de uni-las. Talvez sua alma
triste encontrasse serenidade recompondo a narrativa dos mistérios luminosos desde
o b<i>atismo de Jesus no rio Jordão até o p</i>rimeiro milagre quando o filho
transformou água em vinho nas bodas de Caaná. Relembrou a transfiguração do nazareno
no Monte Thabor e a magia da fraternidade na última Ceia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">Para cada conta de lágrima uma
lembrança, o coração de Maria exultava de alegria e estava pronto para aceitar
os m</span><b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 14.0pt; letter-spacing: .25pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">istérios dolorosos na
da</span></b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;"> oração e agonia no Horto das Oliveira,
o flagelo de Jesus, a coroa de espinhos, seu filho carregando a cruz às costas
para ser crucificado e morto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">O semblante de Maria endurecia mas ganhava
em ternura à medida em que ela ordenava a narrativa resgatando na terra suas
lágrimas. Já era alta noite, Maria caminhava serena e confiante como se os m</span><b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 14.0pt; letter-spacing: .25pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">istérios Gloriosos da r</span></b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">essurreição e ascensão deixassem de ser fantasia e já
fossem notícia a ser dada. A descida do Espírito Eterno era um fio a costura
cada lágrima-conta num rosário bendito. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">Ao chegar em casa, as contas alinhadas formavam
uma peça única, tiara ou pulseira de muitas contas. Maria a colocou na cabeça
num gesto de pura majestade, irradiante como só a beleza singela astronômica alcança,
e se tornou rainha dos céus daquele momento até hoje para que a boa vontade entre
os homens recobrasse no significado da passagem de Jesus pela Terra o sentido
de sermos todos irmãos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #666666; font-family: "Noto Sans",serif; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">Baltazar Gonçalves </span></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-80487585767172513662021-08-24T07:43:00.001-07:002021-08-24T07:43:09.303-07:00AOS SAXÕES AS BATATAS <p>Para o poeta Zola Ramos de luanda canto </p><p>Mesmo que as horas do nosso dia</p><p>Por convenção imperialista</p><p>Dominante desde o tratado de tordesilhas </p><p>Sejam marcadas pelos ponteiros invisíveis </p><p>Do meridiano de greenwich</p><p>Esse distrito na região de londres </p><p>Não dita nem explica nosso ritmo</p><p><br /></p><p>Aos saxões as batatas</p><p><br /></p><p>Nosso observatório para o mundo é a rua do bairro </p><p>Nossa aldeia tem zumgueira, é um quilombo aberto </p><p>Na vila franca do capim mimoso pasta boi e boiada </p><p>Mas muitas portas da percepção continuam abertas</p><p><br /></p><p>Angola é aqui</p><p><br /></p><p>Na porta das fábricas tem rip rop</p><p>Nas salas de aula tem embolada</p><p>Tem Ramon Mocambo </p><p>E Carlos de Assumpção </p><p>No protesto da quebrada,</p><p>Tânia Mara acenando criativa</p><p>a bandeira da nova economia</p><p>Os tambores anunciam a primavera</p><p>Estamos vacinados! </p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-UVa94OTq5ug/YSUFdJhz5nI/AAAAAAAAd9U/EpMnI0xa6y8b-WqoqvVsjsM0nvxdDB5DQCLcBGAsYHQ/s2448/DSC09305.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1624" data-original-width="2448" height="212" src="https://1.bp.blogspot.com/-UVa94OTq5ug/YSUFdJhz5nI/AAAAAAAAd9U/EpMnI0xa6y8b-WqoqvVsjsM0nvxdDB5DQCLcBGAsYHQ/s320/DSC09305.JPG" width="320" /></a></div><br /><p><br /></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-11190577285824615332021-07-05T09:32:00.002-07:002021-07-05T10:21:45.099-07:00CONVITE: LIVE "DIÁRIO DOS MISERÁVEIS"<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/--yKTy9s6Zmk/YOM0Ce8PoMI/AAAAAAAAdzk/m-81SkcU1bAL-3cfeBbAGYSFQGNy3Fl8gCLcBGAsYHQ/s2048/212339882_10224758592087900_6063885987875595078_n.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1536" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/--yKTy9s6Zmk/YOM0Ce8PoMI/AAAAAAAAdzk/m-81SkcU1bAL-3cfeBbAGYSFQGNy3Fl8gCLcBGAsYHQ/s320/212339882_10224758592087900_6063885987875595078_n.jpg" /></a></div><div><br /></div> Já reparou que muito da nossa vida fica para
depois? Eu é sujeito curioso: acredita que o que pensa é pensamento seu e que
só por isso existe. Um tanto desse descompasso é culpa da popularização do que
disse o matemático e francês Renè Descartes: penso, logo existo. Mais sobre
isso "eu conta" amanhã dia 6 quando estarei conversando ao vivo sobre
o DEPOIS EU CONTA: DIÁRIO DOS MISERÁVEIS, meu último livro lançado em abril
desse ano.<p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">O bate papo será mediado pela a psicóloga Roseli Belga se
dará dentro de um projeto maior realizado pela Biblioteca Publica Municipal de
Franca sob os cuidados de Clemência Andrade a partir do facebook <a href="https://www.facebook.com/bibliotecafrancasp/?__cft__%5b0%5d=AZXp43tPCcI43PXRArVBqBFaowg93TPSBKszxT1jrP2-rWUhAgsx6lqsR6M4jX716dmcT5aFcLcqPpmAIa2yl1eAaNucxUGqQN3PdSdJl3Cbf0RPw8TllzIzmDkLKlslvnw&__tn__=kK-R">https://www.facebook.com/bibliotecafrancasp</a>
.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Sobre o livro, pode se dizer que é um mergulho na poética do
“eu fragmentado no subúrbio operário”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Uma pesquisa rápida esclareceria “eu” como o pronome que
designa a pessoa que fala, escreve, age ou se refere a si mesma, normalmente
funcionando como o sujeito de uma oração. Na frase EU CONTA o sujeito discorda
do que diz de si porque nada nos define mais que nossas contradições. Dito de
forma simples, “eu” é a instância interna conhecedora e portadora da
consciência que o indivíduo tem de si mesmo; sinônimo de personalidade ou
persona, unidade psíquica responsável pela interação indivíduo-coletividade desde
o início da vida de cada um de nós. Eu é abstração em constante movimento, e
mudança. Máscara projetada para representar, enfatizar, amplificar e
potencializar a voz do sujeito. Sabemos que são muitas as forças que
transformam o ser humano em coisa, objeto reificado, violado de inúmeras formas
até que se perca os traços próprios da subjetividade na composição triste de um
coletivo disforme. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">No meu livro procuro desenhar esse eu abstrato ferido e
desfigurado por traumas cujas cicatrizares nem sempre são visíveis. Também
rastrear o ponto onde o indivíduo se perde ou se encontra para se expressar, a
voz de quem narra. Partindo de questionamentos pessoais, investigo a semelhança
entre o anto-engano e a transcendência do estado egocêntrico asfixiante: afinal,
as escolhas que fazemos nos definem? Se vistos em conjunto, os poemas na
estrutura do livro dão voz aos miseráveis, referencia à obra de Vitor Hugo
ainda vibrante e atual. Aquele “eu” reificado e distorcido libertar-se na
ficção da fragmentação sofrida sob as aparências, e com afeto converge na
imersão da leitura em busca de uma possível recomposição. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Há também poemas de amor no livro, afinal nada seria sem
amor. Espero você amanhã 6 de julho às 20 horas (horário de Brasília) desejando
que possamos transcender, sempre! <o:p></o:p></span></p>
<p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Um abraço do </span><a href="https://www.facebook.com/BaltazarGoncalvesBill?__cft__%5b0%5d=AZXp43tPCcI43PXRArVBqBFaowg93TPSBKszxT1jrP2-rWUhAgsx6lqsR6M4jX716dmcT5aFcLcqPpmAIa2yl1eAaNucxUGqQN3PdSdJl3Cbf0RPw8TllzIzmDkLKlslvnw&__tn__=-%5dK-R" style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Baltazar
Gonçalves</a> </p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-89020379198129870652021-06-26T04:49:00.010-07:002021-06-26T07:52:58.082-07:00QUANDO AMAR DESANDA <blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-RXUyuyng6vs/YNcdLTG1hWI/AAAAAAAAdvg/Y_cme-oMgDUtudCo0xN7VeD0LJqR8VG_ACLcBGAsYHQ/s720/Screenshot_20210626-092618-336.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="473" data-original-width="720" src="https://1.bp.blogspot.com/-RXUyuyng6vs/YNcdLTG1hWI/AAAAAAAAdvg/Y_cme-oMgDUtudCo0xN7VeD0LJqR8VG_ACLcBGAsYHQ/s320/Screenshot_20210626-092618-336.png" width="320" /></a></div><br />Amar é bom, sempre é. Amar sem controle desgoverna, ninguém espera se perder tanto mas deseja. Só amou quem já perdeu, o resto é achado troca escambo. Respeito é bom mas não tem nada com isso. Te quero só pra mim, não vivo sem você. Auto engano relevante tem sabor. Toda forma de amor é abstração de quem ama. Ser amado é melhor que amar, mas não sacia o desejo nefasto de possuir. Porque amar é também uma forma de controlar, ter quem se ama é a ilusão ácida, doce como sonho de padaria que uma hora dessas você lembra ter guardado e já está passado com gosto azedo. Ninguém pode ser de alguém completamente por muito tempo. Uma hora a grade se rompe e o pássaro foge da gaiola. Só as mães exercem controle por tanto tempo, algumas preferem os filhos sem vida a permitir-lhes que vivam suas escolhas. É triste, mas acontece o tempo todo. Meu filho não merece isso, meu filho aquilo. Em alguns casos o laço é tão firme e forte e danoso que se afunda junto no pântano do controle pais e filhos. Os amantes que despertam da possessão acordam para amar de novo. Amor verdadeiro que te leva a beira da loucura só uma vez na vida. A ilusão da liberdade se repete, somos parecidos. Uns e outros carentes e todos de alguma forma solitários até que se prove o contrário; precisamos acreditar que não chegaremos no fim previsto sozinhos. <p></p></blockquote></blockquote></blockquote><p><br /></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></blockquote></blockquote><br /><p><br /></p><p>*</p><p>*</p><p>Baltazar Gonçalves</p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-76438112053161561892021-05-02T07:27:00.002-07:002021-06-26T05:41:39.908-07:00TUDO É TRANSITÓRIO <p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-rs1u44kARNE/YNcgffT2XUI/AAAAAAAAdvo/QlBV196nWM0A9YByl9iUex7d8D9ghfFbwCLcBGAsYHQ/s2611/IMG_20210622_105957855.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2611" data-original-width="1205" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-rs1u44kARNE/YNcgffT2XUI/AAAAAAAAdvo/QlBV196nWM0A9YByl9iUex7d8D9ghfFbwCLcBGAsYHQ/s320/IMG_20210622_105957855.jpg" /></a></div><br /> <p></p><p class="MsoNormal">Tudo é transitório, <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">impermanente. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Do parto à morte, <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">o tempo é ilusão. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Só percebemos a projeção <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">dos sentidos que são instáveis: <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">no inconstante, consciência. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Isso é tudo. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Saber-se nisso dói, <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">mas nada entorpece <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">por muito tempo. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Melhor acordar <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">enquanto sonha <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">que sonhar a vida <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">prisioneiro da ilusão.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><a href="https://www.facebook.com/BaltazarGoncalvesBill?__cft__%5b0%5d=AZXi1Xbgh7PqEB-KuDX6lN05qiRjGJMR1PrdQFgQ8Up8fpFsHqbpB-g41TSZcKHzR5mF6hoxBxCP0FpU9wDxffD1obyN84up8ghjkZW6-haNIedYhVTcPLesrEVCQ3UnIP4&__tn__=-%5dK-R"><o:p></o:p></a></p>
<p class="MsoNormal"><span class="MsoHyperlink"><a href="https://www.facebook.com/BaltazarGoncalvesBill?__cft__%5b0%5d=AZXi1Xbgh7PqEB-KuDX6lN05qiRjGJMR1PrdQFgQ8Up8fpFsHqbpB-g41TSZcKHzR5mF6hoxBxCP0FpU9wDxffD1obyN84up8ghjkZW6-haNIedYhVTcPLesrEVCQ3UnIP4&__tn__=-%5dK-R">Baltazar<o:p></o:p></a></span></p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-24578285680642681762021-05-02T07:26:00.006-07:002022-05-18T07:44:59.518-07:00perspectivas Será possível ter uma outra perspectiva do amor enquanto se ama? Uma outra perspectiva sobre o mesmo tema é ver "como se aquilo fosse outra coisa, se abrir para a possibilidade, para a novidade. Objetos de uma cena imaginados noutro lugar, bastaria um metro e o deslocamento do olhar. Algumas obras de arte criam essa ilusão de deslocamento do olhar e nos levam a ver "como se". Exemplos não faltam na História da arte, vou dar dois bastante conhecido: a SANTA CEIA de Leonardo da Vinci e o CRISTO DE SÃO JOÃO DA CRUZ de Salvador Dali.Na SANTA CEIA os elementos da cena estão no meio do caminho do olhar, é possível ver o fundo da sala onde Jesus divide o pão e, além, porta e janelas revelam o céu e o campo distantes. Nessa profundidade inventada, nosso olhar mergulha, atravessa, e entra na cena onde participamos do banquete discreto. Essa perspectiva é nova em 1495 e quem ainda vê a cena sente-se convidado por quem oferece o pão. No CRISTO DE SÃO JOÃO DA CRUZ de Salvador Dali pintado em 1951, a cena é vista do alto como só seria possível a um extraterrestre, ou a um deus. O olhar do expectador é direcionado para baixo, onde ele deveria estar assistindo o suplício na cruz e não onde, se supunha, lugar do Criador que no quadro parece ter abandonado sua criação. Uma outra perspectiva, sou maior que tudo que vejo, “eu sou deus”. Essa pintura ainda provoca irritação, a maioria das pessoas não percebe seu ego inflado e, inconscientemente, não separam "eu" de "dEUs" revelando os equívocos do egocentrismo.Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2089942270742104190.post-5941028782094725472021-05-02T07:25:00.004-07:002021-06-26T05:44:25.314-07:00CONTAS DE LÁGRIMAS <p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-FL8cfC5Pupc/YNchJMVeW2I/AAAAAAAAdwA/Cfv6KF79oMUNrV871y2o4WLOuISzKs__ACLcBGAsYHQ/s2611/16247114202921817248006335165863.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2611" data-original-width="1205" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-FL8cfC5Pupc/YNchJMVeW2I/AAAAAAAAdwA/Cfv6KF79oMUNrV871y2o4WLOuISzKs__ACLcBGAsYHQ/s320/16247114202921817248006335165863.jpg" /></a></div><br />Essas folhas parecem capim, planta ordinária sem graça comum
em toda parte. E é mesmo capim, ordinário e sem graça não fossem as contas de
lágrimas que pendem de suas folhas finas em pendão quando crescem. As contas
nas sementes agora invisíveis não choram, é preciso contar uma por uma para que
a lágrima surja entre os dedos. Os antigos inventaram tudo que sei, devo quem
sou a quem veio antes, e sou grato especialmente quando meu pensamento estanca
e não consigo chorar uma frase ordenando minhas palavras. Contas de lágrimas é
rosário de reclamações em silêncio de oração. É certo que haveria em outras
mãos rosários feitos de madrepérolas sofisticadas unidas por fios de ouro, mas
as contas da minha avó eram de lágrimas do capim do quintal, seus rosários
ficavam pendurados na cabeceira da cama. Contar isso parece que faz tempo, que
essas coisas não fazem mais sentido porque somos tão modernos e felizes morando
em cidades modernas e felizes sem quintais para contas de lágrimas. A fábrica
de fazer moda escolhe o que os jardins devem esquecer. Mas eu insisto, sou
desses para quem o ordinário comum sem graça agrada; e quando posso, ou consigo
derramar, conto cada lágrima nascida no meu quintal.<o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal"><a href="https://www.facebook.com/BaltazarGoncalvesBill?__cft__%5b0%5d=AZWmXAO2bUBkliG8DXw7qrJmYX4l8A48XYa4Eyuy2Jn8qgEog6ZlmbWyY4LTmvQUVf-THXRBFdmYerflejPlOUcwqrtxsverRnwTWq1xt7QD2Z0JliPqxtacqEB5sGKoWTw&__tn__=-%5dK-R"><o:p></o:p></a></p>
<p><a href="https://www.facebook.com/BaltazarGoncalvesBill?__cft__%5b0%5d=AZWmXAO2bUBkliG8DXw7qrJmYX4l8A48XYa4Eyuy2Jn8qgEog6ZlmbWyY4LTmvQUVf-THXRBFdmYerflejPlOUcwqrtxsverRnwTWq1xt7QD2Z0JliPqxtacqEB5sGKoWTw&__tn__=-%5dK-R">Baltazar</a> </p>Baltazar Gonçalveshttp://www.blogger.com/profile/17982457101672410126noreply@blogger.com0